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Destaque
Postado por
Claudio Carvalho
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Álbum: Sobrevivendo no Inferno
Artista: Racionais MC's
Ano: 1997
Gravadora: Cosa Nostra
Produção: Gertz Palma, Racionais MC's
Arranjos: KL Jay
- KL Jay: Scratch
- Edi Rock: Voz
- Ice Blue: Voz
- Mano Brown: Voz
Informações
- Player com as músicas do disco está disponível logo após as faixas.
Curiosidades
- Em 2018, a obra virou livro, com selo da Companhia das Letras. O livro, de 160 páginas, traz fotos inéditas e informações do grupo, e foi lançado no dia 31 de outubro. Meses depois de seu lançamento, a Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da UNICAMP) o incluiu na lista de obras obrigatória a partir do vestibular de 2020. (Trecho extraído do site Wikipédia)
- O álbum alcançou a marca de 1,500,000 de cópias vendidas, apesar de ter sido lançado por uma gravadora independente. (Trecho extraído do site Wikipédia)
- A música “Diário de um Detento” (baseada no diário de Jocenir, ex-detento do Presídio do Carandiru) gerou um dos videoclipes mais assistidos em 1998. Abaixo irei postar o clip.(Trecho extraído do site aescotilha)
Faixas
1) Jorge Da Capadócia
(Jorge Ben)
2) Genesis (Intro)
(Mano Brown)
3) Capítulo 4, Versículo 3
(Mano Brown)
Letra
Capítulo 4, Versículo 3
Sessenta por cento dos jovens de periferia sem antecedentes criminais Já sofreram violência policial A cada quatro pessoas mortas pela policia, três são negras Nas universidades brasileiras Apenas dois por cento dos alunos são negros A cada quatro horas, um jovem negro morre violentamente Em São Paulo Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente Minha intenção é ruim esvazia o lugar Eu tô em cima, eu tô afim um dois pra atirar Eu sou bem pior do que você tá vendo O preto aqui não tem dó é 100 por cento veneno A primeira faz bum, a segunda faz tá Eu tenho uma missão e não vou falhar Meu estilo é pesado e faz tremer o chão Minha palavra vale um tiro eu tenho muita munição Na queda ou na ascensão, minha atitude vai além E tem disposição pro mal e pro bem Talvez eu seja um sádico, um anjo, um mágico Juiz ou réu, um bandido do céu Malandro ou otário, quase sanguinário Franco atirador se for necessário Revolucionário, insano ou marginal Antigo e moderno, imortal Fronteira do céu com o inferno Astral imprevisível, como um ataque cardíaco no verso Violentamente pacífico, verídico Vim pra sabotar seu raciocínio Vim pra abalar seu sistema nervoso e sanguíneo Pra mim ainda é pouco dá cachorro louco Numero um dia terrorista da periferia Uni-duni-tê, eu tenho pra você Um rap venenoso ou uma rajada de PT E a profecia se fez como previsto 1997 depois de Cristo A fúria negra ressuscita outra vez Racionais capítulo quatro versículo três Aleluia, aleluia Racionais no ar Filha da puta, pá pá pá Faz frio em São Paulo pra mim tá sempre bom Eu tô na rua de bombeta e moletom Dim dim dom, rap é o som que emana do Opala marrom E aí, chama o Guilherme Chama o Fader, chama o Dinho e o Di Marquinho, chama o Éder, vamo aí Se os outros mano vem pela ordem tudo bem melhor Quem é quem no bilhar, no dominó Colou dois mano, um acenou pra mim De jaco de cetim, de tênis, calça jeans Ei Brown, sai fora, nem vai, nem cola Não vale a pena dar ideia nesse tipo aí Ontem à noite eu vi na beira do asfalto Tragando a morte, soprando a vida pro alto Ó os cara só o pó pele e osso No fundo do poço, mó flagrante no bolso Veja bem, ninguém é mais que ninguém Veja bem, veja bem, e eles são nossos irmãos também Mar de cocaína e crack, uísque e conhaque Os mano morre rapidinho sem lugar de destaque Mas quem sou eu pra falar de quem cheira ou quem fuma? Nem dá nunca te dei porra nenhuma Você fuma o que vem entope o nariz Bebe tudo o que vê faça o diabo feliz Você vai terminar tipo o outro mano lá Que era um preto tipo A ninguém tava numa Mó estilo de calça Calvin Klein, tênis Puma Um jeito humilde de ser no trampo e no rolê Curtia um funk, jogava uma bola Buscava a preta dele no portão da escola Exemplo pra nóis mó moral, mó ibope Mas começou a colar com os branquinho do shopping Ai já era, ih, mano, outra vida, outro pique Só mina de elite, balada, vários drinques Puta de butique, toda aquela porra Sexo sem limite, Sodoma e Gomorra Hãn, faz uns nove anos Tem uns quinze dias atrás eu vi o mano Cê tem que ver pedindo cigarro pros tiozinho no ponto Dente tudo zuado, bolso sem nenhum conto O cara cheira mal, as tias sente medo Muito louco de sei lá o que logo cedo Agora não oferece mais perigo Viciado, doente, fudido inofensivo Um dia um PM negro veio embaçar E disse pra eu me pôr no meu lugar Eu vejo um mano nessas condições, não dá Será assim que eu deveria estar? Irmão, o demônio fode tudo ao seu redor Pelo rádio, jornal, revista e outdoor Te oferece dinheiro, conversa com calma Contamina seu caráter, rouba sua alma Depois te joga na merda sozinho Transforma um preto tipo A num neguinho Minha palavra alivia sua dor Ilumina minha alma, louvado seja o meu senhor Que não deixa o mano aqui desandar E nem senta o dedo em nenhum pilantra Mas que nenhum filha da puta ignore a minha lei Racionais capítulo quatro versículo três Aleluia, aleluia Racionais no ar Filha da puta, pá pá pá Quatro minutos se passaram e ninguém viu O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil Talvez o mano que trampa debaixo do carro sujo de óleo Que enquadra o carro forte na febre com o sangue nos olhos O mano que entrega envelope o dia inteiro no sol Ou o que vende chocolate de farol em farol Talvez o cara que defende o pobre no tribunal Ou o que procura vida nova na condicional Alguém no quarto de madeira, lendo à luz de vela Ouvindo rádio velho, no fundo de uma cela Ou o da família real de negro como eu sou Um príncipe guerreiro que defende o gol E eu não mudo, mas eu não me iludo Os mano cu de burro têm, eu sei de tudo Em troca de dinheiro e um carro bom Tem mano que rebola e usa até batom Vários patrícios falam merda pra todo mundo rir Haha, pra ver branquinho aplaudir É, na sua área tem fulano até pior Cada um, cada um você se sente só Tem mano que te aponta uma pistola e fala sério Explode sua cara por um toca-fita velho Click plau plau plau e acabou Sem dó e sem dor, foda-se sua cor Limpa o sangue com a camisa e manda se fuder Você sabe por que, pra onde vai, pra quê Vai de bar em bar, de esquina em esquina Pega cinquenta conto, troca por cocaína E fim o filme acabou pra você A bala não é de festim, aqui não tem dublê Para os mano da baixada fluminense à Ceilândia Eu sei, as ruas não são como a Disneylândia De Guaianases ao extremo sul de Santo Amaro Ser um preto tipo A custa caro É foda, foda é assistir a propaganda e ver Não dá pra ter aquilo pra você Playboy forgado de brinco, um trouxa Roubado dentro do carro na Avenida Rebouças Correntinha das moça, as madame de bolsa Dinheiro não tive pai não sou herdeiro Se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal Por menos de um real, minha chance era pouca Mas se eu fosse aquele moleque de touca Que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca De quebrada, sem roupa, você e sua mina Um dois, nem me viu já sumi na neblina Mas não permaneço vivo, prossigo a mística Vinte e sete anos contrariando a estatística Seu comercial de TV não me engana Eu não preciso de status nem fama Seu carro e sua grana já não me seduz E nem a sua puta de olhos azuis Eu sou apenas um rapaz latino americano Apoiado por mais de cinquenta mil manos Efeito colateral que o seu sistema fez Racionais capítulo quatro versículo trêsMano Brown
4) Tô Ouvindo Alguém Me Chamar
(Mano Brown)
Letra
Tô Ouvindo Alguém Me Chamar
Tô ouvindo alguém gritar meu nome
Parece um mano meu, é voz de homem
Eu não consigo ver quem me chama
É tipo a voz do Guina
Não, não, não, o Guina tá em cana
Será? Ouvi dizer que morreu
Sei lá!
Última vez que eu o vi,
Eu lembro até que eu não quis ir, ele foi
Parceria forte aqui era nós dois
Louco, louco, louco e como era
Cheirava pra caralho, (vixe) sem miséria
Todo ponta firme, foi professor no crime
Também mó sangue frio, não dava boi pra ninguém
Puta aquele mano era foda!
Só moto nervosa
Só mina da hora
Só roupa da moda
Deu uma pá de blusa pra mim
Naquela fita na butique do Itaim
Mas sem essa de sermão, mano, eu também quero ser assim
Vida de ladrão não é tão ruim!
Pensei
Entrei
No outro assalto eu colei e pronto
Aí o Guina deu mó ponto:
- Aí é um assalto, todo mundo pro chão, pro chão...!
- Aí filho-da-puta, aqui ninguém tá de brincadeira não!
- Mais eu ofereço o cofre mano, o cofre, o cofre.....
- Vamo lá que o bicho vai pegar!
Pela primeira vez vi o sistema aos meu pés
Apavorei, desempenho nota dez
Dinheiro na mão, o cofre já tava aberto
O segurança tentou ser mais esperto
Foi defender o patrimônio do playboy (tiros)
Não vai dar mais pra ser super-herói!
Se o seguro vai cobrir (Ha! Ha!),
Foda-se, e daí ?
O Guina não tinha dó:
Se reagir, Bum!, vira pó
Sinto a garganta ressecada
E a minha vida escorrer pela escada
Mas se eu sair daqui eu vou mudar
Eu to ouvindo alguém me chamar
Eu to ouvindo alguém me chamar
Tinha um maluco lá na rua de trás
Que tava com moral até demais
Ladrão, e dos bons
Especialista em invadir mansão
Comprava brinquedo a reviria
Chamava a molecada e distribuía
Sempre que eu via ele tava só
O cara é gente fina mas eu sou melhor
Eu aqui na pior, ele tem o que eu quero:
Jóia escondida e uma 380
No desbaratino ele até se crescia
Se pan, ignorava até que eu existia
Tem um brilho na janela, é então
A bola da vez
Tá vendo televisão
(Psiu....Vamo, vai, entrando)
Guina no portão, eu e mais um mano
"- Como é que é neguinho?"
Se dirigia a mim, e ria, ria, como se eu não fosse nada
Ria, como fosse ter virada
Estava em jogo, meu nome e atitude. (tiros)
Era uma vez Robin Hood.
Fulano sangue-ruim, caiu de olho aberto
Tipo me olhando, eh, me jurando
Eu tava bem de perto e acertei uns seis
O Guina foi e deu mais três.
Lembro que um dia o Guina me falou
Que não sabia bem o que era amor
Falava quando era criança
uma mistura de ódio, frustração e dor
De como era humilhante ir pra escola
Usando a roupa dada de esmola
De ter um pai inútil, digno de dó
Mais um bêbado, filho da puta e só.
Sempre a mesma merda, todo dia igual
Sem feliz aniversário, Páscoa ou Natal
Longe dos cadernos, bem depois
A primeira mulher e o 22
Prestou vestibular no assalto do busão
numa agência bancária se formou ladrão
Não, não se sente mais inferior
Aí neguinho, agora eu tenho o meu valor
Guina, eu tinha mó admiração, ó
Considerava mais do que meu próprio irmão, ó
Ele tinha um certo dom pra comandar
Tipo, linha de frente em qualquer lugar
Tipo, condição de ocupar um cargo bom e tal
Talvez em uma multinacional.
É foda...
Pensando bem que desperdício
Aqui na área acontece muito disso
Inteligência e personalidade
Mofando atrás da porra de uma grade
Eu só queria ter moral e mais nada
Mostrar pro meu irmão
Pros cara da quebrada.
Uma caranga e uma mina de esquema
Algum dinheiro resolvia o meu problema
O que eu tô fazendo aqui?
Meu tênis sujo de sangue, aquele cara no chão
Uma criança chorando e eu com um revolver na mão
Aquele é o quadro do terror, e eu que fui ao autor
Agora é tarde, eu já não podia mais
Parar com tudo, nem tentar voltar atrás
Mas no fundo, mano, eu sabia
Que essa porra ia zoar a minha vida um dia
Me olhei no espelho e não reconheci
Estava enlouquecendo, não podia mais dormir
Preciso ir até o fim
Será que Deus ainda olha pra mim?
Eu sonho toda madrugada
Com criança chorando e alguém dando risada
Não confiava nem na minha própria sombra
Mas segurava a minha onda
Sonhei que uma mulher me falou, eu não sei o lugar
Que um conhecido meu (quem?) ia me matar
Precisava acalmar a adrenalina
Precisava parar com a cocaína
Não to sentindo meu braço
Nem me mexer da cintura pra baixo
Ninguém na multidão vem me ajudar?
Que sede da porra, eu preciso respirar!
Cadê meu irmão?
Eu to ouvindo alguém me chamar
Eu to ouvindo alguém me chamar
Nunca mais vi meu irmão
Diz que ele pergunta de mim, não sei não
A gente nunca teve muito a ver
Outra idéia, outro rolê
Os malucos lá do bairro
Já falava de revolver, droga, carro
Pela janela da classe eu olhava lá fora
A rua me atraia mais do que a escola
Fiz 17, tinha que sobreviver
Agora eu era um homem, tinha que correr
No mundão você vale o que tem
Eu não podia contar com ninguém
Cuzão,
Fica você com seu sonho de doutor!
Quando acordar cê me avisa, morô?
Eu e meu irmão era como óleo e água
Quando eu sai de casa trouxe muita mágoa
Isso há mais ou menos seis anos atrás
Porra, mó saudade do meu pai!
Me chamaram para roubar um posto
Eu tava duro, era mês de agosto
Mais ou menos três e meia, luz do dia
Tudo fácil demais, só tinha um vigia
Não sei, não deu tempo, eu não vi, ninguém viu
Atiraram na gente, um moleque caiu
Prometi pra mim mesmo, era a última vez...
Porra, ele só tinha 16!
Não, não, não, tô afim de parar
Mudar de vida, ir pra outro lugar
Um emprego decente, sei lá
Talvez eu volte a estudar
Dormir a noite era difícil pra mim
Medo, pensamento ruim
Ainda ouço gargalhadas, choro, vozes
A noite era longa
Mó neurose
Tem uns malucos atrás de mim
Qual que é?
Eu nem sei.
Diz que o Guina tá em cana e eu que cagüetei
Pô, logo quem, logo eu, olha só, ó!
Que sempre segurei os B.O.!
Não, eu não sou bobo, eu sei qual é que é!
Mas eu não to com esse dinheiro que os cara quer
Maior que o medo, o que eu tinha era decepção
A trairagem
A pilantragem
A traição
Meus aliado, meus mano, meus parceiro
Querendo me matar por dinheiro
Vivi sete anos em vão
Tudo que eu acreditava não tem mais razão, não...
Meu sobrinho nasceu
Diz que o rosto dele é parecido com o meu
Eh, diz... um pivete eu sempre quis
Meu irmão merece ser feliz
Deve estar a essa altura
Bem perto de fazer a formatura
Acho que é direito, advocacia
Acho que era isso que ele queria
Sinceramente eu me sinto feliz
Graças a Deus, não fez o que eu fiz
Minha finada mãe, proteja o seu menino
O diabo agora guia o meu destino
Se o júri for generoso comigo:
Quinze anos para cada latrocínio...
Sem dinheiro pra me defender
Homem morto, cagueta, sem ser
Que se foda, deixa acontecer
Não há mais nada a fazer.
Essa noite eu resolvi sair
Tava calor demais, não dava pra dormir
Ia levar meu canhão,
Sei lá, decidi que não
É rapidinho, não tem precisão
Muita criança, pouco carro, vou tomar um ar
Acabou meu cigarro, vou até o bar
( E aí, como é que é, e aquela lá ó?)
To devagar, to devagar.
Tem uns baratos que não dá pra perceber
Que tem mó valor e você não vê
Uma pá de árvore na praça
As criança na rua
O vento fresco na cara
As estrela
A lua
Dez minutos atrás, foi como uma premonição
Dois moleques caminhando em minha direção
Não vou correr, eu sei do que se trata
Se é isso que eles querem
então vem, me mata!
Disse algum barato pra mim que eu não escutei
Eu conhecia aquela arma, é do Guina, eu sei!
Uma 380 prateada, que eu mesmo dei
Um moleque novato com a cara assustada
("Aí mano, o Guina mandou isso aqui pra você")
Mas depois do quarto tiro eu não vi mais nada
Sinto a roupa grudada no corpo
Eu quero viver
Não posso estar morto!
Mas se eu sair daqui eu vou mudar
Eu tô ouvindo alguém me chamar
Mano Brown5) Rapaz Comum
(Edi Rock)
Letra
Rapaz Comum
Parece que alguém está me carregando perto do chão Parece um sonho, parece uma ilusão A agonia, o desespero toma conta de mim. Algo no ar me diz que é muito ruim. Meu sangue quente. Não sinto dor. A mão dormente não sente o próprio suor. Meu raciocínio fica meio devagar. Quem me fodeu? Eu tô tentando me lembrar. Cresceu o movimento ao meu redor. Meu Deus! Eu não sei mais o que é pior. Mentir a vida toda pra si mesmo. Ou continuar e insistir no mesmo erro. Me lembro de um fulano: \"mata esse mano!\" Será que errar dessa forma é humano? Errar a vida inteira é muito fácil. Pra sobreviver aqui tem que ser mágico. Me lembro de várias coisas ao mesmo tempo. Como se eu estivesse perdendo tempo. \"A ironia da vida é foda!\" Que valor tem? Quanto valor tem? Uma vida vale muito, vim saber agora. Deitado aqui e os manos na paz, tudo lá fora Puxando ferro ou talvez batendo uma bola. \"Pode crer. Deve tá mó lua da hora\" Tem alguém me chamando, quem é? Apertando minha mão, tem voz de mulher. O choro a faz engolir as palavras. Um lenço que enxuga meu suor enxuga suas próprias lágrimas. No rosto de uma mãe que ora baixinho. Que nunca me deixou faltar, ficar sozinho. Me ensinou o caminho desde criança. Minha infância, mais uma eu guardo na lembrança. Na esperança da periferia eu sou mais um. \"Clip, clap, bum!\" Rapaz comum. \"Clip, clap, bum!\" \"A lei da selva é assim\" \"Clip, clap, bum!\" Rapaz comum. \"A lei da selva é assim\" \"Clip, clap, bum!\" \"Predatória\". Rapaz comum. \"Preserve a sua glória!\" Queria atrasar o meu relógio. Pra mim vale muito um minuto a mais de ódio. Mas me sinto fraco, indefeso, desprotegido. Eu vou mais alto, cusão! Pra te levar comigo! Vou ser um encosto na sua vida. Você criou um monstro sem cura, sem alternativa! Me enganar pra quê? Se o fim é virar pó! Fiquei muito pior. Segura o seu B.O.! O preto aqui não tem dó! Mais uma vida desperdiçada e é só. Uma bala vale por uma vida do meu povo. No pente tem quinze, sempre há menos no morro, e então? Quantos manos iguais a mim se foram? Preto, preto, pobre, cuidado, socorro! Quê que pega aqui? Quê que acontece ali? Vejo isso frequentemente, desde moleque. Quinze de idade já era o bastante, então. Treta no baile, então. Tiros de monte! Morte nem se fala! Eu vejo o cara agonizando! \"Chame a ambulância! Alguém chame a ambulância!\" Depois ficava sabendo na semana Que dois já era. Os preto sempre teve fama. No jornal, revista e TV se vê. Morte aqui é natural, é comum de se ver. Caralho! Não quero ter que achar normal ver um mano meu coberto de jornal! É mal! Cotidiano suicida! Quem entra tem passagem só pra ida! Me diga. Me diga: que adianto isso faz? Me diga. Me diga: que vantagem isso traz? Então... A fronteira entre o Céu e o Inferno tá na sua mão. Nove milímetros de ferro. Cusão! otário! que pôrra é você? Olha no espelho e tenta entender A arma é uma isca pra fisgar. Você não é polícia pra matar! É como uma bola de neve. Morre um, dois, três, quatro. Morre mais um em breve. Sinto na pele, me vejo entrando em cena. Tomando tiro igual filme de cinema. \"Clip, clap, bum!\" Rapaz comum. \"Clip, clap, bum!\" \"A lei da selva é assim\" \"Clip, clap, bum!\" Rapaz comum. \"A lei da selva é assim\" \"Clip, clap, bum!\" \"Predatória\". Rapaz comum. \"Preserve a sua glória!\" Minha idéia tá clareando. Eu fico atacado, mó neurose, o tempo tá esgotando. Não quero admitir, meus olhos vão abrir. Vou chorar, vou sorrir, vou me despedir. Não quero admitir que sou mais um. Infelizmente é assim, aqui é comum. Um corpo a mais no necrotério, é sério. Um preto a mais no cemitério, é sério. Eu tô me vendo agora e é difícil. Minha família, meus manos. No centro um crucifixo. Meus filhos olhando sem entender o porquê. Se eu pudesse falar talvez iriam saber. Não acredito que esse mano veio até aqui! Me matou, quer certeza e quer conferir. Me acompanham até a sepultura. Vejo um tumulto no caixão. Hã! E alguém segura! Mais uma mãe que não se conforma. Perder um filho dessa forma é foda! Quem se conforma? Como eu podia imaginar no velório de outras pessoas. Hoje estou no lugar. No buraco desce o meu caixão. Jogam terra, flores, se despedem na última oração. Tão me chamando, meu tempo acabou. Não sei pra onde ir! Não sei pra onde vou! Qual que é? Qual que é? O quê que eu vou ser? Talvez um anjo de guarda pra te proteger Não sou o último nem muito menos o primeiro A lei da selva é uma merda e você é o herdeiro!Edi Rock
6) ...
(Edy Rock)
7) Diário De Um Detento
(Jocenir, Mano Brown)
Letra
Diário de um Detento
São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da manhã Aqui estou, mais um dia Sob o olhar sanguinário do vigia Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de uma HK Metralhadora alemã ou de Israel Estraçalha ladrão que nem papel Na muralha, em pé, mais um cidadão José Servindo o Estado, um PM bom Passa fome, metido a Charles Bronson Ele sabe o que eu desejo Sabe o que eu penso O dia tá chuvoso. O clima tá tenso Vários tentaram fugir, eu também quero Mas de um a cem, a minha chance é zero Será que Deus ouviu minha oração? Será que o juiz aceitou a apelação? Mando um recado lá pro meu irmão Se tiver usando droga, tá ruim na minha mão Ele ainda tá com aquela mina Pode crer, moleque é gente fina Tirei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá Tanto faz, os dias são iguais Acendo um cigarro, e vejo o dia passar Mato o tempo pra ele não me matar Homem é homem, mulher é mulher Estuprador é diferente, né? Toma soco toda hora, ajoelha e beija os pés E sangra até morrer na rua 10 Cada detento uma mãe, uma crença Cada crime uma sentença Cada sentença um motivo, uma história de lágrima sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo Misture bem essa química Pronto: eis um novo detento Lamentos no corredor, na cela, no pátio Ao redor do campo, em todos os cantos Mas eu conheço o sistema, meu irmão, hã Aqui não tem santo Rátátátá preciso evitar Que um safado faça minha mãe chorar Minha palavra de honra me protege pra viver no país das calças bege Tic, tac, ainda é 9h40 O relógio da cadeia anda em câmera lenta Ratatatá, mais um metrô vai passar Com gente de bem, apressada, católica Lendo jornal, satisfeita, hipócrita Com raiva por dentro, a caminho do Centro Olhando pra cá, curiosos, é lógico Não, não é não, não é o zoológico Minha vida não tem tanto valor Quanto seu celular, seu computador Hoje, tá difícil, não saiu o sol Hoje não tem visita, não tem futebol Alguns companheiros têm a mente mais fraca Não suportam o tédio, arruma quiaca Graças a Deus e à Virgem Maria Faltam só um ano, três meses e uns dias Tem uma cela lá em cima fechada Desde terça-feira ninguém abre pra nada Só o cheiro de morte e Pinho Sol Um preso se enforcou com o lençol Qual que foi? Quem sabe? Não conta Ia tirar mais uns seis de ponta a ponta Nada deixa um homem mais doente Que o abandono dos parentes Aí moleque, me diz: então, cê qué o quê? A vaga tá lá esperando você Pega todos seus artigos importados Seu currículo no crime e limpa o rabo A vida bandida é sem futuro Sua cara fica branca desse lado do muro Já ouviu falar de Lúcifer? Que veio do Inferno com moral Um dia no Carandiru, não ele é só mais um Comendo rango azedo com pneumonia Aqui tem mano de Osasco, do Jardim D'Abril, Parelheiros Mogi, Jardim Brasil, Bela Vista, Jardim Angela Heliópolis, Itapevi, Paraisópolis Ladrão sangue bom tem moral na quebrada Mas pro Estado é só um número, mais nada Nove pavilhões, sete mil homens Que custam trezentos reais por mês, cada Na última visita, o neguinho veio aí Trouxe umas frutas, Marlboro, Free Ligou que um pilantra lá da área voltou Com Kadett vermelho, placa de Salvador Pagando de gatão, ele xinga, ele abusa Com uma nove milímetros embaixo da blusa Brown: "Aí neguinho, vem cá, e os manos onde é que tá? Lembra desse cururu que tentou me matar?" Blue: "Aquele puta ganso, pilantra corno manso Ficava muito doido e deixava a mina só A mina era virgem e ainda era menor Agora faz chupeta em troca de pó!" Brown: "Esses papos me incomoda Se eu tô na rua é foda" Blue: "É, o mundo roda, ele pode vir pra cá." Brown: "Não, já, já, meu processo tá aí Eu quero mudar, eu quero sair Se eu trombo esse fulano, não tem pá, não tem pum E eu vou ter que assinar um cento e vinte e um." Amanheceu com sol, dois de outubro Tudo funcionando, limpeza, jumbo De madrugada eu senti um calafrio Não era do vento, não era do frio Acertos de conta tem quase todo dia Tem outra logo mais, eu sabia Lealdade é o que todo preso tenta Conseguir a paz, de forma violenta Se um salafrário sacanear alguém leva ponto na cara igual Frankestein Fumaça na janela, tem fogo na cela Fudeu, foi além, se pã!, tem refém Na maioria, se deixou envolver Por uns cinco ou seis que não têm nada a perder Dois ladrões considerados passaram a discutir Mas não imaginavam o que estaria por vir Traficantes, homicidas, estelionatários Uma maioria de moleque primário Era a brecha que o sistema queria Avise o IML, chegou o grande dia Depende do sim ou não de um só homem Que prefere ser neutro pelo telefone Ratatatá, caviar e champanhe Fleury foi almoçar, que se foda a minha mãe! Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo Quem mata mais ladrão ganha medalha de prêmio! O ser humano é descartável no Brasil Como modess usado ou bombril Cadeia? Guarda o que o sistema não quis Esconde o que a novela não diz Ratatatá! sangue jorra como água Do ouvido, da boca e nariz O Senhor é meu pastor Perdoe o que seu filho fez Morreu de bruços no salmo 23 sem padre, sem repórter sem arma, sem socorro Vai pegar HIV na boca do cachorro Cadáveres no poço, no pátio interno Adolf Hitler sorri no inferno! O Robocop do governo é frio, não sente pena Só ódio e ri como a hiena Ratatatá, Fleury e sua gangue vão nadar numa piscina de sangue Mas quem vai acreditar no meu depoimento? Dia 3 de outubro, diário de um detentoJocenir, Mano Brown
8) Periferia É Periferia (Em Qualquer Lugar)
(Edi Rock)
Letra
Periferia É Periferia (Em Qualquer Lugar)
Este lugar é um pesadelo periférico Fica no pico numérico de população De dia a pivetada a caminho da escola À noite vão dormir enquanto os manos "decola" Na farinha... hã! Na pedra... hã! Usando droga de monte, que merda! hã! Eu sinto pena da família desses cara Eu sinto pena, ele quer mas ele não para! Um exemplo muito ruim pros moleque Pra começar é rapidinho e não tem breque Herdeiro de mais alguma Dona Maria "Cuidado, senhora, tome as rédeas da sua cria!" Porque o chefe da casa, trabalha e nunca está Ninguém vê sair, ninguém escuta chegar O trabalho ocupa todo o seu tempo Hora extra é necessário pro alimento Uns reais a mais no salário Esmola de um patrão, cuzão milionário! Ser escravo do dinheiro é isso, fulano 360 dias por ano, sem plano Se a escravidão acabar pra você Vai viver de quem? Vai viver de quê? O sistema manipula sem ninguém saber A lavagem cerebral te fez esquecer Que andar com as próprias pernas não é difícil Mais fácil se entregar, se omitir Nas ruas áridas da selva Eu já vi lágrimas demais, o bastante pra um filme de guerra Aqui a visão já não é tão bela Não existe outro lugar Periferia (gente pobre) Aqui a visão já não é tão bela Não existe outro lugar Periferia é periferia Aqui a visão já não é tão bela Não existe outro lugar Periferia (gente pobre) Aqui a visão já não é tão bela. Não existe outro lugar Periferia é periferia Um mano me disse que quando chegou aqui Tudo era mato e só se lembra de tiro, aí Outro maluco disse que ainda é embaçado Quem não morreu, tá preso, sossegado Quem se casou, quer criar o seu pivete, ou não Cachimbar e ficar doido igual moleque, então A covardia dobra a esquina e mora ali Lei do Cão, Lei da Selva, hã Hora de subir! –"Mano, que treta, mano! Mó treta, você viu? Roubaram o dinheiro daquele tio!" Que se esforça sol a sol, sem descansar Nossa Senhora o ilumine, nada vai faltar É uma pena. Um mês inteiro de trabalho Jogado tudo dentro de um cachimbo, caralho! O ódio toma conta de um trabalhador Escravo urbano Um simples nordestino Comprou uma arma pra se auto-defender Quer encontrar O vagabundo, q'essa vez não vai ter... boi –"Qual que foi? (Qual que foi?)" Não vai ter... boi –"Qual que foi? (Qual que foi?)" A revolta deixa o homem de paz imprevisível E sangue no olho, impiedoso e muito mais Com sede de vingança e prevenido Com ferro na cinta, acorda na Madrugada de quinta Um pilantra andando no quintal Tentando, roubando, as roupas do varal Olha só como é o destino, inevitável! O fim de vagabundo, é lamentável! Aquele puto que roubou ele outro dia Amanheceu cheio de tiro, ele pedia Dezenove anos jogados fora É foda! Essa noite chove muito Por que Deus chora Muita pobreza, estoura violência! Nossa raça está morrendo Não me diga que está tudo bem! Muita pobreza, estoura violência! Nossa raça está morrendo Não me diga que está tudo bem! Muita pobreza, estoura violência! Nossa raça está morrendo Não me diga que está tudo bem! Muita pobreza, estoura violência! Nossa raça está morrendo Verdade seja dita! Vi só a alguns anos pra cá, pode acreditar Já foi bastante pra me preocupar Com meus filhos, periferia é tudo igual Todo mundo sente medo de sair de madrugada e tal Ultimamente, andam os doidos pela rua Loucos na fissura, te estranham na loucura Pedir dinheiro é mais fácil que roubar, mano Roubar é mais fácil que trampar, mano É complicado O vício tem dois lados Depende disso ou daquilo, ou não, tá tudo errado Eu não vou ficar do lado de ninguém, por quê? Quem vende a droga pra quem? Hã! Vem pra cá de avião ou pelo porto, cais Não conheço pobre dono de aeroporto e mais Fico triste por saber e ver Que quem morre no dia a dia é igual a eu e a você Periferia é periferia (Que horas são? Não sei responder) Periferia é periferia (Milhares de casas amontoadas) Periferia é periferia (Vacilou, ficou pequeno. Pode acreditar) Periferia é periferia (em qualquer lugar) (Gente pobre) Periferia é periferia (Vários botecos abertos, várias escolas vazias) Periferia é periferia (E a maioria por aqui se parece comigo) Periferia é periferia (Mães chorando, irmãos se matando. Até quando?) Periferia é periferia (Em qualquer lugar. Gente pobre) Periferia é periferia (Aqui, meu irmão, é cada um por si) Periferia é periferia (Molecada sem futuro eu já consigo ver) Periferia é periferia (Aliados, drogados, então) Periferia é periferia (em qualquer lugar) (Gente pobre) Periferia é periferia (Deixe o crack de lado, escute o meu recado)Edi Rock
9) Qual Mentira Vou Acreditar
(Mano Brown)
Letra
Qual Mentira Vou Acreditar
São apenas dez e meia, tem a noite inteira
Dormir é embaçado, numa sexta-feira
TV é uma merda, prefiro ver a lua
Preto Edy Rock Star a caminho da rua
Hã... sei lá vou pruma festa, "se pam"
Se os cara não colar, volto às três da manhã
Tô devagar, tô a cinquenta por hora
Ouvindo funk do bom, minha trilha sonora
A polícia cresce o olho, eu quero que se foda!
Zona Norte a bandidagem curte a noite toda
Eu me formei suspeito profissional
Bacharel pós-graduado em "tomar geral"
Eu tenho um manual com os lugares, horários, de como "dar perdido"
Aí, caralho... ( "prefixo da placa é MY, sentido Jaçanã, Jardim Hebron...")
Quem é preto como eu já tá ligado qual é
Nota Fiscal, RG, polícia no pé
("Escuta aqui: o primo do cunhado do meu genro é mestiço
Racismo não existe, comigo não tem disso. É pra sua segurança")
Falou, falou, deixa pra lá
Vou escolher em qual mentira vou acreditar
Tem que saber curtir, tem que saber lidar
Em qual mentira vou acreditar?
A noite é assim mesmo, então... deixa rolar
Em qual mentira vou acreditar?
Tem que saber curtir, tem que saber lidar
Em qual mentira vou acreditar?
Ô, que caras chato, ó! Quinze pras Onze
Eu nem fui muito longe e os "home" embaçou
Revirou os banco, amassou meu boné branco
Sujou minha camisa dos Santos
Eu nem me lembro mais pra onde eu vou
E agora, quem será que ligou?
"Me espere na estação, eu tô na Zona Sul
Eu chego rapidinho, assinado: Blue"
Pode crer, naquele lado de Santana
Conheço uns lugar, conheço umas fulana
Juliana? Não. Mariana? Não. Alessandra? Não. Adriana?
O nome é só um detalhe, o nome é só um nome
9532... hum, esqueci o telefone
"Porra, demorou, heim?!" E aí, Blue, como é?
Isso aqui é um inferno, tem uma par de mulher
Trombei uma par de gente, uma par de mano
Tô há quase uma hora te esperando
Passou uma figura aqui e deu ideia
Disse que te conhece e pá, chama Léa
Cabelo solto, vestido vermelho
Estrategicamente a um palmo do joelho
Os caras comentaram o visual, oh os bico e tal, pagando o maior pau.
Ninguém falou, ah! ah! mas eu ouvia meio mundo
Xingando por telepatia ("mina filha da puta!").
Economizava meu vocabulário, não tinha o que falar
Falava o necessário, meio assim, é claro
Será qual é que é, truta é o que não falta, mina filha da puta
Tudo comigo, confio no meu taco, versão africana "Don Juan de Marco"
Tudo muito bom, tudo muito bem, sei lá o que é que tem
Idéia vai, idéia vem, ela era princesa, eu era o plebeu
Quem é mais foda que eu, espelho, espelho meu
"Tipo Taís de Araújo ou Camila Pitanga?"
Uma mistura. Confesso: fiquei de perna bamba
Será que ela aceita ir comigo pro baile?
Ou ir pra Zona Sul ter um "Grand Finale"?
Amor com gosto de gueto até às seis da manhã
Me chamar de "meu preto" e me cantar "Djavan"
Ninguém ouviu, mas... puta que pariu!
Em fração de segundos meu castelo caiu!
A mais bonita da escola, rainha passista
Se transformou numa vaca nazista!
Eu ouvindo James Brown, pá, cheio de pose
Ela pergunto se eu tenho... o quê?
Guns n' Roses? Lógico que não! A mina quase histérica
Meteu a mão no rádio e pôs na Transamérica
Como é que ela falou? Só se liga nessa
Que mina cabulosa, olha só que conversa:
Que tinha bronca de neguinho de salão (não...)
Que a maioria é maloqueiro e ladrão (aí não...)
Aí não, mano! Foi por pouco
Eu já tava pensando em capotar no soco
Disse pra mim não falar gíria com ela
pra me lembrar que não tô na favela
Bate-boca, mó guela, será que é meia-noite, já?
A Cinderela virou bruxa do mal
Me humilhar não vai, vai tirar o caralho
Levanta o seu rabo racista e sai!
"Eu conheço essa perversa "há maior cara"
Correu a banca toda de uns "pleiba" que colava lá na área
"Pra mim ela já disse que era solitária
Que a família era rígida e autoritária
Tem vergonha de tudo, cheia de complexo
Que ainda era cedo pra pensar em sexo
A noite é assim mesmo... deixa rolar!
Vou escolher em qual mentira vou acreditar
Tem que saber curtir, tem que saber lidar
Em qual mentira vou acreditar?
A noite é assim mesmo, então... deixa rolar
Em qual mentira vou acreditar?
Tem que saber curtir, tem que saber lidar
Em qual mentira vou acreditar?
Ih! Caralho! Olha só quem tá ali?
O que que esse mano tá fazendo aqui?
E aí, esse maluco veio agora comigo
Ligou que era até seu amigo, que morava lá na sul
irmão da Cristiane, dei um cavalo(carona pra biqueira, não o animal) pra ele no Lausane
Ia levar um recado pra uns parente local
Da Igreja Evangélica Pentecostal
Desceu do carro acenando a mão
"A paz do Senhor!". Ninguém dava atenção
Bem diferente do estilo dos crentes
Bombojaco, touca, mas a noite tá quente
Que barato estranho, só aqui tá escuro
Justo nesse poste não tem luz de mercúrio
Passaram vinte fiéis até agora, dá cinco reais
Cumprimenta e sai fora
Um irmão muito sério, em frente à garagem
Outro com a mão na cintura em cima da laje
De vez em quando a porta abre e um diz:
"Tem do preto e do branco?" e coça o nariz.
Isso sim, isso é que é união!
O irmão saiu feliz, sem discriminação!
De lá pra cá veio gritando, rezando
"Aleluia, as coisas tão melhorando!"
Esse cara é dentista, sei lá...
Diz que a firma dele chama "Boca S.A.".
Será material de construção? Vendedor de pedras?
Lá na zona sul era patrão
Que patrão o caralho! Ele é safado
Fugiu do Valo Velho com os dias contados
A paranoia de fumar era fatal
Arrombava os barracos, saqueava os varal
Bateu na cara do pai de um vagabundo
Humm... tá fazendo hora extra no mundo
A noite tá boa, a noite tá de barato
Mas puta, gambé, pilantra é mato!
Tem que saber curtir, tem que saber lidar
Em qual mentira vou acreditar?
A noite é assim mesmo, então... deixa rolar
Em qual mentira vou acreditar?
Tem que saber curtir, tem que saber lidar
Em qual mentira vou acreditar?
Tem que saber curtir, tem que saber lidar
Em qual mentira vou acreditar?
A noite é assim mesmo, então... deixa rolar
Em qual mentira vou acreditar?
Tem que saber curtir, tem que saber lidar
Em qual mentira vou acreditar?
Mano Brown10) Mágico De Oz
(Edi Rock)
Letra
Mágico De Oz
Aquele moleque, que sobrevive como manda o dia a dia Tá na correria, como vive a maioria Preto desde nascença, escuro de sol Eu tô pra vê ali igual, no futebol Sair um dia das ruas é a meta final Viver decente, sem ter na mente o mal Tem o instinto que a liberdade deu Tem a malicia, que cada esquina deu Conhece puta, traficante e ladrão Toda raça, uma par de alucinado e nunca embaçou Confia neles mais do que na polícia Quem confia em polícia? Eu não sou louco A noite chega e o frio também Sem demora, ai a pedra O consumo aumenta a cada hora Pra aquecer ou pra esquecer Viciar, deve ser pra se adormecer Pra sonha, viajar, na paranoia, na escuridão Um poço fundo de lama, mais um irmão Não quer crescer, ser fugitivo do passado Envergonhar-se se aos 25 ter chegado Queria que Deus ouvisse a minha voz E transformasse aqui num Mundo Mágico de Oz Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz) Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x) Um dia ele viu a malandragem com o bolso cheio Pagando a rodada, risada e vagabunda no meio A impressão que dá, é que ninguém pode parar Um carro importado, som no talo Homem na Estrada, eles gostam Só bagaceira só, o dia inteiro só Como ganha o dinheiro? Vendendo pedra e pó Rolex, ouro no pescoço à custa de alguém Uma gostosa do lado, pagando pau pra quem? A polícia passou e fez o seu papel Dinheiro na mão, corrupção a luz do céu Que vida agitada, hein? Gente pobre tem Periferia tem. Você conhece alguém? Moleque novo que não passa dos 12 Já viu, viveu, mais que muito homem de hoje Vira a esquina e para em frente a uma vitrine Se vê, se imagina na vida do crime Dizem que quem quer segue o caminho certo Ele se espelha em quem tá mais perto Pelo reflexo do vidro ele vê Seu sonho no chão se retorcer Ninguém liga pro moleque tendo um ataque "Foda-se, quem morrer dessa porra de crack." Relacione os fatos com seu sonho Poderia ser eu no seu lugar Das duas uma, eu não quero desandar Por aqueles manos que trouxeram essa porra pra cá Matando os outros, em troca de dinheiro e fama Grana suja, como vem, vai, não me engana Queria que Deus ouvisse a minha voz E transformasse aqui num Mundo Mágico de Oz Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz) Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x) Ei mano, será que ele terá uma chance? Quem vive nessa porra, merece uma revanche É um dom que você tem de viver É um dom que você recebe pra sobreviver História chata, mas cê tá ligado Que é bom lembrar: quem entra, é um em cem pra voltar Quer dinheiro pra vender? Tem um monte aí Tem dinheiro, quer usar? Tem um monte aí Tudo dentro de casa vira fumaça, é foda Será que Deus deve estar aprovando minha raça? Só desgraça gira em torno daqui Falei do JB ao Piqueri, Mazzei Rezei para o moleque que pediu "Qualquer trocado, qualquer moeda Me ajuda tio..." Pra mim não faz falta, uma moeda não neguei Não quero saber, o que que pega se eu errei Independente, a minha parte eu fiz Tirei um sorriso ingênuo, fiquei um terço feliz Se diz que moleque de rua rouba O governo, a polícia, no Brasil quem não rouba? Ele só não tem diploma pra roubar Ele não esconde atrás de uma farda suja É tudo uma questão de reflexão irmão É uma questão de pensar A polícia sempre dá o mau exemplo Lava a minha rua de sangue, leva o ódio pra dentro Pra dentro de cada canto da cidade Pra cima dos quatro extremos da simplicidade A minha liberdade foi roubada Minha dignidade violentada Que nada dos manos se ligar Parar de se matar Amaldiçoar, levar pra longe daqui essa porra Não quero que um filho meu um dia Deus me livre morra Ou um parente meu acabe com um tiro na boca É preciso eu morrer pra Deus ouvir minha voz Ou transformar aqui no Mundo Mágico de Oz? Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz) Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x) Jardim Filhos da Terra e tal Jardim Hebron, Jaçanã e Jova Rural Piqueri, Mazzei, Nova Galvão Jardim Corisco, Fontális e então Campo Limpo, Guarulhos, Jardim Peri JB, Edu Chaves e Tucuruvi Alô Doze, Mimosa, São Rafael Zaki Narchi, tem um lugar no céu Às vezes eu fico pensando Se Deus existe mesmo, morô? Porque meu povo já sofreu demais E continua sofrendo até hoje Só que ai eu vejo os moleque nos farol, na rua Muito louco de cola, de pedra E eu penso que poderia ser um filho meu, morô? Mas aí, eu tenho fé Eu tenho fé... em DeusEdy Rock
11) Fórmula Mágica Da Paz
(Mano Brown)
Letra
Fórmula Mágica Da Paz
Essa porra é um campo minado Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui Mas, aí, minha área é tudo o que eu tenho A minha vida é aqui e eu não preciso sair É muito fácil fugir, mas eu não vou Não vou trair quem eu fui, quem eu sou Eu gosto de onde eu 'to e de onde eu vim Ensinamento da favela foi muito bom pra mim Cada lugar um lugar, cada lugar uma lei, cada lei uma razão Eu sempre respeitei Qualquer Jurisdição, qualquer área, Jd. Santo Eduardo Grajaú, Missionária, Funchal, Pedreira e tal, Joaniza Eu tento advinhar o que você mais precisa Levantar sua goma ou comprar uns pano, um advogado pra tirar seu mano No dia da visita você diz, que eu vou mandar cigarro pros maluco lá no X Então, como eu 'tava dizendo, sangue bom Isso não é sermão, ouve aí tenho o dom Eu sei como é que é, é foda parceiro Eh, a maldade na cabeça o dia inteiro Nada de roupa, nada de carro, sem emprego Não tem ibope, não tem rolê, sem dinheiro Sendo assim, sem chance, sem mulher, você sabe muito bem O que ela quer (eh) encontre uma de caráter se você puder Mas tem, é embaçado ou não é? Ninguém é mais que ninguém, absolutamente, Aqui quem fala é mais um sobrevivente Eu era só um moleque, só pensava em dançar Cabelo black e tênis All Star Na roda da função mó zoeira tomando vinho seco em volta da fogueira A noite inteira, só contando história, sobre o crime Sobre as treta na escola Eu não 'tava nem aí, nem levava nada a sério Admirava os ladrão e os malandro mais velho Mas se liga, olhe ao seu redor e me diga O que melhorou? Da função quem sobrou? Sei lá Muito velório rolou de lá pra cá, qual a próxima mãe que vai chorar? Há, demorou mas hoje eu posso compreender, que malandragem de verdade é viver Agradeço a Deus e aos Orixás, parei no meio do caminho E nem olhei pra trás Meus outros manos todos foram longe demais, Cemitério São luis, aqui Jaz Mas que merda, meu oitão 'tá até a boca, É! Que vida louca! Por que é que tem que ser assim? Ontem eu sonhei que um fulano aproximou de mim, "Agora eu quero ver ladrão, pá! Pá! Pá! Pá!", Fim Sai, sonho é sonho, deixa quieto Sexto sentido é um dom, eu 'to esperto, morrer é um fator, Mas conforme for, tem no bolso e na agulha e mais 5 no tambor Vai! Então joga o jogo, vamo lá, Caiu a 8 eu mato a par Eu não preciso de muito pra sentir-me capaz de encontrar a A fórmula Mágica da Paz Eu vou procurar, sei que vou me encontrar Eu vou procurar, eu vou procurar Você não bota uma fé, mas eu vou atrás Da minha fórmula mágica da paz (Eu vou procurar e sei que vou encontrar Eu vou procurar, eu vou procurar Você não bota uma fé, mas eu vou atrás) Caralho, que calor, que horas são agora? Dá pra ouvir a pivetada gritando lá fora Hoje, acordei cedo pra ver, sentir a brisa da manhã e o sol nascer É época de pipa, o céu está cheio, 15 anos atrás eu 'tava ali no meio Lembrei de quando era pequeno, eu e os cara (Faz tempo hein Brown?) Uma cara! E o tempo não para Hoje 'tá da hora o esquema pra sair Pá, mano não demora, mano, chega aí! 'Cê viu ontem? Os tiro eu vi, um monte! Então, diz que tem uma pá de sangue no campão Mas ih, blum! Toda mão é sempre a mesma ideia junto Treta, tiro, sangue, aí, muda de assunto Traz a fita pra eu ouvir que eu 'to sem Principalmente aquela lá do Jorge Ben Uma pá de mano preso chora a solidão Uma pá de mano solto sem disposição Empenhorando por aí, rádio, tênis, calça, acende num cachimbo virou fumaça! Não é por nada não, mas aí, nem me liga ó A minha liberdade eu curto bem melhor Não 'to nem aí pra o que os outros fala 4, 5, 6, preto num Opala, pode vir gambé, paga pau 'Tô na minha, na moral, na maior, sem goró, sem pacau, sem pó Eu 'to ligeiro, eu tenho a minha regra, não sou pedreiro Eu não fumo pedra, um rolê com os aliados já me faz feliz Respeito mútuo é a chave, é o que eu sempre quis (me diz) Procure a sua, a minha eu vou atrás, vamo junto (até mais) da fórmula mágica da paz (Eu vou procurar, eu sei que vou me encontrar Eu vou procurar, eu vou procurar Você não bota uma fé, mas eu vou atrás) Da fórmula mágica da paz (Eu vou procurar, eu sei que vou me encontrar Eu vou procurar, eu vou procurar Você não bota uma fé, mas eu vou atrás) Choro e correria no saguão de um hospital Dia das crianças, feriado e luto final Sangue e agonia entra pelo corredor Ele 'tá vivo? Não, pelo amor de Deus doutor! 4 tiros do pescoço pra cima, puta que pariu a chance é mínima Aqui fora, revolta e dor, lá dentro estado desesperador Eu percebi quem eu sou realmente O meu sub-consciente: "E aí Mano Brown vacilão? Cadê você? Seu mano 'tá morrendo o que você vai fazer?" Pode crer, eu me senti inútil, eu me senti pequeno Mais um cuzão vingativo, vai vendo! Puta desespero, não dá pra acreditar, não Que pesadelo, eu quero acordar Não dá, não deu, não daria de jeito nenhum, O Derley era só mais um rapaz comum, dali a poucos minutos (dali a poucos minutos) Mais uma Dona Maria de luto Na parede o sinal da cruz, que porra é essa? Que mundo é esse? Onde tá Jesus? Mais uma vez um emissário, agora sim, já incluiu o Capão Redondo Em seu itinerário porra, eu 'to confuso, preciso pensar Me dá um tempo pra eu raciocinar Eu já não sei distinguir quem tá errado, sei lá Minha ideologia enfraqueceu: Preto, branco, polícia, ladrão ou eu Quem é mais filha da puta, eu nem sei! (E aí fudeu) fudeu, decepção essas hora a depressão quer me pegar vou sair fora 2 de novembro era finados, eu parei em frente ao São Luís do outro lado E durante uma meia hora olhei um por um e o que todas as senhoras tinham em comum A roupa humilde, a pele escura, o rosto abatido pela vida dura Colocando flores sobre a sepultura Podia ser a minha mãe, que loucura! Cada lugar uma lei, eu tô ligado No extremo sul da Zona Sul tá tudo errado Sim, aqui vale muito pouco a sua vida, nossa lei é falha, violenta e suicida Se diz, que me diz que, não se revela Parágrafo primeiro na lei da favela Legal, assustador é quando se descobre que tudo deu em nada e que só morre o pobre A gente vive se matando irmão (por quê?) Não me olhe assim, eu sou igual a você Descanse o seu gatilho, descanse o seu gatilho E que no trem da humildade, o meu rap é o trilho Zona Leste, só deixar o coração cantar Vou dizer Procure a sua paz A sua paz Procure a sua paz Procure a sua paz A sua paz A sua paz A sua paz Procure a sua paz Você não bota uma fé, você não bota uma féMano Brown
12) Salve
(Edy Rock, Mano Brown)
Aperte play para ouvir todo o disco ou toque no nome da faixa que deseja ouvi.
Este é considerado o álbum mais importante da história do Rap Nacional. Eu, humildemente, assino embaixo e digo, até, que é um dos maiores álbuns de nossa música e não só do Rap. É um álbum raríssimo e já deveria estar aqui antes. É um dos melhores álbuns que eu já ouvi na vida.
Esta raridade também foi lançada em vinil, conforme as capas abaixo:
Este é considerado o álbum mais importante da história do Rap Nacional. Eu, humildemente, assino embaixo e digo, até, que é um dos maiores álbuns de nossa música e não só do Rap. É um álbum raríssimo e já deveria estar aqui antes. É um dos melhores álbuns que eu já ouvi na vida.
Esta raridade também foi lançada em vinil, conforme as capas abaixo:
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| Parte interna do LP |
Gostaria de compartilhar o texto do site aescotilha que traz uma abordagem bacana sobre este clássico. Segue o link !
Também vou postar, conforme prometido, o clipe oficial da música "Diário de um Detento", um clássico absoluto (Como diz meu grande amigo Alberto Neto). É só clicar na imagem abaixo e conferir !
Para saber mais os Racionais, acesse:
Também vou postar, conforme prometido, o clipe oficial da música "Diário de um Detento", um clássico absoluto (Como diz meu grande amigo Alberto Neto). É só clicar na imagem abaixo e conferir !
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| Diário de um Detento |
Para saber mais os Racionais, acesse:
Baixe o disco clicando no link ao lado: Sobrevivendo no Inferno (OBS: Caso não haja visualização da pasta com as faixas, clique em Download e depois em Fazer download mesmo assim)
Referências
- http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/consulta/detalhe.php?Id_Disco=DI03910
- https://www.discogs.com/Racionais-MCs-Sobrevivendo-No-Inferno/master/719701
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Sobrevivendo_no_Inferno#Forma%C3%A7%C3%A3o
- https://billboard.uol.com.br/noticias/20-anos-de-sobrevivendo-no-inferno-classico-dos-racionais-mcs/
- http://www.aescotilha.com.br/musica/vitrola/sobrevivendo-no-inferno-a-obra-prima-dos-racionais-mcs/
Colaboradores:
Comentários







Clássico absoluto!
ResponderExcluirEsse é !!
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