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Destaque
Postado por
Claudio Carvalho
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Álbum: Elis & Tom
Artista: Elis Regina e Tom Jobim
Ano: 1974
Gravadora: Phonogram/Philips
Arranjo: Tom Jobim, César Camargo Mariano
Produção: Aloysio de Oliveira
Músicos participantes
- Bill Hitchcock : Regência Instrumental
- Hubert Laws: Flauta
- Jerome Richardson: Flauta
- Tom Jobim: Piano, Piano Elétrico
- César Camargo Mariano: Piano, Piano Elétrico
- Oscar Castro Neves: Violão
- Hélio Delmiro: Violão, Guitarra
- Luizão Maia: Baixo Elétrico
- Paulinho Braga: Bateria
- Chico Batera: Bateria, Percussão
Informações
- Player com as músicas do disco está disponível logo após as faixas.
Faixas
1) Águas de Março
(Tom Jobim)
Letra
Águas de Março
É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol É peroba do campo, é o nó da madeira Caingá, candeia, é o Matita Pereira É madeira de vento, tombo da ribanceira É o mistério profundo, é o queira ou não queira É o vento ventando, é o fim da ladeira É a viga, é o vão, festa da cumueira É a chuva chovendo, é conversa ribeira Das águas de março, é o fim da canseira É o pé, é o chão, é a marcha estradeira Passarinho na mão, pedra de atiradeira É uma ave no céu, é uma ave no chão É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão É o fundo do poço, é o fim do caminho No rosto, o desgosto, é um pouco sozinho É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto É um pingo pingando, é uma conta, é um conto É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando É a luz da manhã, é o tijolo chegando É a lenha, é o dia, é o fim da picada É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada É o projeto da casa, é o corpo na cama É o carro enguiçado, é a lama, é a lama É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um resto de mato, na luz da manhã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É uma cobra, é um pau, é João, é José É um espinho na mão, é um corte no pé São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um belo horizonte, é uma febre terçã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração Au, edra, im, minho Esto, oco, ouco, inho Aco, idro, ida, ol, oite, orte, aço, zol São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coraçãoTom Jobim
2) Pois é
(Tom Jobim/Chico Buarque)
Letra
Pois é
Pois é Fica o dito e redito por não dito É difícil dizer que inda é bonito Cantar o que me restou de ti Taí nosso mais-que-perfeito está desfeito E o que me parecia tão direito Caiu desse jeito sem perdão Então disfarçar minha dor já não consigo Dizer que nós somos bons amigos É muita mentira para mim E enfim hoje na solidão ainda custo A entender como o amor foi tão injusto pra quem só lhe foi dedicação Pois é, e entãoTom Jobim - Chico Buarque
3) Só Tinha de Ser com Você
(Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
Letra
Só Tinha de Ser com Você
É, só eu sei Quanto amor eu guardei Sem saber que era só prá você É, só tinha de ser com você Havia de ser pra você Senão era mais uma dor Senão não seria o amor Aquele que a gente não vê O amor que chegou para dar O que ninguém deu pra você É, você que é feita de azul Me deixa morar nesse azul Me deixa encontrar minha paz Você que é bonita demais Se ao menos pudesse saber Que eu sempre fui só de você Você sempre foi só de mim Que eu sempre fui só de você Você sempre foi só de mimTom Jobim - Aloysio de Oliveira
4) Modinha
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
Letra
Modinha
Não pode mais meu coração Viver assim dilacerado Escravizado a uma ilusão Que é só desilusão Ah, não seja a vida sempre assim Como um luar desesperado A derramar melancolia em mim Poesia em mim Vai, triste canção, sai do meu peito E semeia a emoção Que chora dentro do meu coração CoraçãoTom Jobim - Vinicius de Moraes
5) Triste
(Tom Jobim)
Letra
Triste
Triste é viver na solidão Na dor cruel de uma paixão Triste é saber que ninguém pode viver de ilusão Que nunca vai ser, nunca vai dar O sonhador tem que acordar Tua beleza é um avião, demais prum pobre coração Que pára pra te ver passar Só pra me maltratar Triste é viver na solidãoTom Jobim
6) Corcovado
(Tom Jobim)
Letra
Corcovado
Um cantinho e um violão Este amor, uma canção Pra fazer feliz a quem se ama Muita calma pra pensar E ter tempo pra sonhar Da janela vê-se o Corcovado O Redentor que lindo Quero a vida sempre assim com você perto de mim Até o apagar da velha chama E eu que era triste Descrente deste mundo Ao encontrar você eu conheci O que é felicidade meu amor O que é felicidade, o que é felicidadeTom Jobim
7) O Que Tinha de Ser
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
Letra
O Que Tinha de Ser
Porque foste na vida A última esperança Encontrar-te me fez criança Porque já eras meu Sem eu saber sequer Porque és o meu homem E eu tua mulher Porque tu me chegaste Sem me dizer que vinhas E tuas mãos foram minhas com calma Porque foste em minh'alma Como um amanhecer Porque foste o que tinha de serTom Jobim - Vinicius de Moraes
8) Retrato em Branco e Preto
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes/Chico Buarque)
Letra
Retrato em Branco e Preto
Já conheço os passos dessa estrada Sei que não vai dar em nada Seus segredos sei de cor Já conheço as pedras do caminho, E sei também que ali sozinho, Eu vou ficar tanto pior E o que é que eu posso contra o encanto, Desse amor que eu nego tanto Evito tanto e que, no entanto, Volta sempre a enfeitiçar Com seus mesmos tristes, velhos fatos, Que num álbum de retratos Eu teimo em colecionar Lá vou eu de novo como um tolo, Procurar o desconsolo, Que cansei de conhecer Novos dias tristes, noites claras, Versos, cartas, minha cara Ainda volto a lhe escrever Pra lhe dizer que isso é pecado, Eu trago o peito tão marcado De lembranças do passado e você sabe a razão Vou colecionar mais um soneto, Outro retrato em branco e preto A maltratar meu coraçãoTom Jobim - Chico Buarque
9) Brigas, Nunca Mais
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
Letra
Brigas Nunca mais
Chegou, sorriu, venceu depois chorou Então fui eu quem consolou sua tristeza Na certeza de que o amor tem dessas fases más E é bom para fazer as pazes, mas Depois fui eu quem dela precisou E ela então me socorreu E o nosso amor mostrou que veio pra ficar Mais uma vez por toda a vida Bom é mesmo amar em paz Brigas nunca maisTom Jobim - Vinicius de Moraes
10) Por Toda Minha Vida
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
Letra
Por Toda Minha Vida
Minha bem-amada Quero fazer-te um juramento uma canção Eu prometo, por toda a minha vida Ser somente teu e amar-te como nunca Ninguém jamais amou, ninguém Minha bem-amada Estrela pura aparecida Eu te amo e te proclamo O meu amor O meu amor Maior que tudo quanto existe Oh, meu amorTom Jobim - Vinicius de Moraes
11) Fotografia
(Tom Jobim)
Letra
Fotografia
Eu, você, nós dois Aqui neste terraço à beira-mar O sol já vai caindo e o seu olhar Parece acompanhar a cor do mar Você tem que ir embora A tarde cai Em cores se desfaz, Escureceu O sol caiu no mar E aquela luz Lá em baixo se acendeu... Você e eu Eu, você, nós dois Sozinhos neste bar à meia-luz E uma grande lua saiu do mar Parece que este bar já vai fechar E há sempre uma canção Para contar Aquela velha história De um desejo Que todas as canções Têm pra contar E veio aquele beijo Aquele beijo Aquele beijoTom Jobim
12) Soneto de Separação
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
Letra
Soneto de Separação
De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo, distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repenteTom Jobim - Vinicius de Moraes
13) Chovendo na Roseira
(Tom Jobim)
Letra
Chovendo na Roseira
Olha Está chovendo na roseira Que só dá rosa mas não cheira A frescura das gotas úmidas Que é de Betinho, que é de Paulinho, que é de João Que é de ninguém! Pétalas de rosa carregadas pelo vento Um amor tão puro carregou meu pensamento Olha, um tico-tico mora ao lado E passeando no molhado Adivinhou a primavera Olha, que chuva boa, prazenteira Que vem molhar minha roseira Chuva boa, criadeira Que molha a terra, que enche o rio, que lava o céu Que traz o azul! Olha, o jasmineiro está florido E o riachinho de água esperta Se lança embaixo do rio de águas calmas Ahh, você é de ninguém!Tom Jobim
14) Inútil Paisagem
(Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
Letra
Inútil Paisagem
Mas pra que? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra que? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? Inútil paisagem Pode ser que não venhas mais; Que não venhas nunca mais... De que servem as flores que nascem pelos caminhos? Se meu caminho sozinho é nada...Tom Jobim - Aloysio de Oliveira
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Gostaria de compartilhar um belo texto que abrange um pouco da história deste FANTÁSTICO álbum, trazendo informações bem legais. Infelizmente não consegui descobrir o autor do texto.
" Se quisesse, Elis Regina poderia ter antecipado para 1974 a era em que as gravadoras presenteavam os artistas com carros importados, apartamentos, dólares e outros mimos por boas vendagens, para renovar contratos ou comemorar aniversários. A pergunta de André Midani estava no ar: o que Elis queria receber de presente por seus dez anos de gravadora? A resposta foi rápida e direta: um disco em duo com Antonio Carlos Jobim e exclusivamente com suas canções. Apesar da cena Aladdin & a lâmpada configurada, o pedido de Elis não seria exatamente uma ordem fácil de executar por sua gravadora.
A se julgar pelo memorável resultado final não seria um exagero considerar que Elis & Tom – o encontro do melhor compositor com a melhor cantora em um disco de estúdio - seria uma espécie de comunhão entre Deuses da MPB. Essa avaliação nos induz a imaginar que os dois estariam cravados no mesmo grau de desenvolvimento e conquistas em suas carreiras, mas a realidade não era exatamente essa.
Aos 29 anos incompletos, 15 de carreira, Elis Regina por mérito próprio se tornara a maior cantora brasileira em atividade. Virtuose em técnica, precisa em afinação, agradável no timbre, fera na divisão, versátil em gêneros e extremamente hábil na escolha de repertório, Elis somava 19 discos lançados no Brasil, múltiplos sucessos emplacados e algumas incursões internacionais.
Do outro lado do ringue, Tom Jobim em 74 era um jovem senhor de 47 anos que residia naquele momento nos EUA por opção e comodidade profissional. Figura de proa do único gênero brasileiro que conquistara o mundo, Tom a essa altura já tinha gravado, dirigido ou inspirado com sua obra mais de 22 discos dentro e fora do Brasil, gravara com Stan The Sound Getz e dividira dois discos com a lenda-viva Frank Sinatra. Dono do nome brasileiro mais conhecido da música depois de Carmen Miranda no mundo, Jobim tinha ainda na recordista “Garota de Ipanema” - vencedora do Grammy superando até os Beatles - uma das canções mais executadas e regravadas do planeta. Como se tudo isso não fosse o bastante para desequilibrar a balança, qual seria a razão que teria o Maestro para se deixar embalar para presente se sequer cogitara gravar um disco com Elis Regina? Ao contrário, dez anos antes a havia rejeitado para estrela do musical Pobre menina rica.
Mais do que um sonho ou um presente, Elis & Tom seria mais um desafio a ser vencido pela Pimentinha.
Desde que o projeto fora aceito pela gravadora, Elis e seu marido, diretor musical e tecladista César Camargo Mariano ficaram meses dormindo com a ideia. Já Tom levou apenas alguns dias apenas considerando a proposta até dizer sim, mesmo sem ser informado de maiores detalhes.
O produtor, parceiro de Tom e ex-integrante do Bando da Lua de Carmen Miranda, Aloysio de Oliveira foi estrategicamente convocado para tocar o projeto não só pela competência, mas pela proximidade com Jobim e por ter larga experiência no exterior.
O mundo ideal em termos orçamentários seria que Tom viesse ao Brasil para gravar, mas não conseguiram fazer Maomé vir à montanha. Num misto de resignação e êxtase, César e Elis embarcaram para Los Angeles com montanhas de planos e frio na barriga, ladeira acima em direção ao primeiro looping em que se transformaria o encontro pré-gravação com Tom. Os músicos Luizão Maia (baixo), Paulinho Braga (bateria) e Hélio Delmiro (guitarra) deixariam o Brasil no dia seguinte para formar a base das sessões de gravação. Billl Hitchcock foi alistado por Aloysio para escrever para cordas em cinco faixas e o resto dos arranjos ficaria por conta de César Camargo Mariano. Tudo estaria perfeito, não fosse o fato de Tom Jobim, o outro artista do disco, desconhecer completamente tudo isso.
Não podendo ser de outra forma, o clima do encontro em LA começou muito tenso. O Maestro não conseguia entender porque trazer músicos brasileiros se havia tantos excelentes por lá e mais, não concordava com que César Camargo Mariano escrevesse os arranjos (muito menos com o uso de piano elétrico nas gravações) e telefonou imediatamente para Claus Orgeman e Dave Grusin que para sorte de Elis e César, não estavam disponíveis assim tão em cima da hora para esse maestro delivery à brasileira. O grande e generoso Antonio Carlos Jobim não teve outro jeito senão se conformar com a situação.
As gravações tiveram lugar nos estúdios MGM de Los Angeles entre os dias 22 de fevereiro e 9 de março de 1974 – em pleno inferno astral da cantora que completaria 29 anos oito dias após terminadas as sessões de Elis & Tom.
Talvez por isso ela tenha escrito no encarte: “Nos meus dez anos de gravadora, ganhei de presente um encontro com Tom. Foram momentos vividos por duas pessoas muito tensas, que só conseguem descontrair através da música...”
E foi assim que aconteceu. Quando arregaçaram as mangas pra trabalhar todo o constrangimento e tensão se diluíram. Elis colocou voz praticamente ao vivo, sem necessidade de refazer takes, como já era costumeiro. Tom gravou seu piano e violão nos mesmos primeiros quatro dias em que o quinteto de cordas foi captado. Em seguida César e Aloysio se encarregaram de gravar as bases com os músicos brasileiros - acostumados a tocar juntos desde o início dos anos 70 – junto com o violão primoroso de Oscar Castro Neves.
Trinta e seis anos depois, ao escutar as 14 faixas do álbum e contemplar o sorriso de Elis e a expressão viva de Tom e seus óculos de leitura na capa, é difícil imaginar que de tanta tensão pudesse surgir uma obra-prima como Elis & Tom.
Para o Maestro, depois do susto, ficou a simpatia pelo projeto demonstrada num telefonema feito a César Camargo Mariano. Para Elis, seu melhor trabalho e o único em que ouvia sua voz com prazer. Para nós, pobres mortais, um verdadeiro presente para todos os aniversários de nossas vidas."
Texto do site http://immub.org
Para saber mais sobre Elis Regina e Tom Jobim, acesse:
Gostaria de compartilhar um belo texto que abrange um pouco da história deste FANTÁSTICO álbum, trazendo informações bem legais. Infelizmente não consegui descobrir o autor do texto.
" Se quisesse, Elis Regina poderia ter antecipado para 1974 a era em que as gravadoras presenteavam os artistas com carros importados, apartamentos, dólares e outros mimos por boas vendagens, para renovar contratos ou comemorar aniversários. A pergunta de André Midani estava no ar: o que Elis queria receber de presente por seus dez anos de gravadora? A resposta foi rápida e direta: um disco em duo com Antonio Carlos Jobim e exclusivamente com suas canções. Apesar da cena Aladdin & a lâmpada configurada, o pedido de Elis não seria exatamente uma ordem fácil de executar por sua gravadora.
A se julgar pelo memorável resultado final não seria um exagero considerar que Elis & Tom – o encontro do melhor compositor com a melhor cantora em um disco de estúdio - seria uma espécie de comunhão entre Deuses da MPB. Essa avaliação nos induz a imaginar que os dois estariam cravados no mesmo grau de desenvolvimento e conquistas em suas carreiras, mas a realidade não era exatamente essa.
Aos 29 anos incompletos, 15 de carreira, Elis Regina por mérito próprio se tornara a maior cantora brasileira em atividade. Virtuose em técnica, precisa em afinação, agradável no timbre, fera na divisão, versátil em gêneros e extremamente hábil na escolha de repertório, Elis somava 19 discos lançados no Brasil, múltiplos sucessos emplacados e algumas incursões internacionais.
Do outro lado do ringue, Tom Jobim em 74 era um jovem senhor de 47 anos que residia naquele momento nos EUA por opção e comodidade profissional. Figura de proa do único gênero brasileiro que conquistara o mundo, Tom a essa altura já tinha gravado, dirigido ou inspirado com sua obra mais de 22 discos dentro e fora do Brasil, gravara com Stan The Sound Getz e dividira dois discos com a lenda-viva Frank Sinatra. Dono do nome brasileiro mais conhecido da música depois de Carmen Miranda no mundo, Jobim tinha ainda na recordista “Garota de Ipanema” - vencedora do Grammy superando até os Beatles - uma das canções mais executadas e regravadas do planeta. Como se tudo isso não fosse o bastante para desequilibrar a balança, qual seria a razão que teria o Maestro para se deixar embalar para presente se sequer cogitara gravar um disco com Elis Regina? Ao contrário, dez anos antes a havia rejeitado para estrela do musical Pobre menina rica.
Mais do que um sonho ou um presente, Elis & Tom seria mais um desafio a ser vencido pela Pimentinha.
Desde que o projeto fora aceito pela gravadora, Elis e seu marido, diretor musical e tecladista César Camargo Mariano ficaram meses dormindo com a ideia. Já Tom levou apenas alguns dias apenas considerando a proposta até dizer sim, mesmo sem ser informado de maiores detalhes.
O produtor, parceiro de Tom e ex-integrante do Bando da Lua de Carmen Miranda, Aloysio de Oliveira foi estrategicamente convocado para tocar o projeto não só pela competência, mas pela proximidade com Jobim e por ter larga experiência no exterior.
O mundo ideal em termos orçamentários seria que Tom viesse ao Brasil para gravar, mas não conseguiram fazer Maomé vir à montanha. Num misto de resignação e êxtase, César e Elis embarcaram para Los Angeles com montanhas de planos e frio na barriga, ladeira acima em direção ao primeiro looping em que se transformaria o encontro pré-gravação com Tom. Os músicos Luizão Maia (baixo), Paulinho Braga (bateria) e Hélio Delmiro (guitarra) deixariam o Brasil no dia seguinte para formar a base das sessões de gravação. Billl Hitchcock foi alistado por Aloysio para escrever para cordas em cinco faixas e o resto dos arranjos ficaria por conta de César Camargo Mariano. Tudo estaria perfeito, não fosse o fato de Tom Jobim, o outro artista do disco, desconhecer completamente tudo isso.
Não podendo ser de outra forma, o clima do encontro em LA começou muito tenso. O Maestro não conseguia entender porque trazer músicos brasileiros se havia tantos excelentes por lá e mais, não concordava com que César Camargo Mariano escrevesse os arranjos (muito menos com o uso de piano elétrico nas gravações) e telefonou imediatamente para Claus Orgeman e Dave Grusin que para sorte de Elis e César, não estavam disponíveis assim tão em cima da hora para esse maestro delivery à brasileira. O grande e generoso Antonio Carlos Jobim não teve outro jeito senão se conformar com a situação.
As gravações tiveram lugar nos estúdios MGM de Los Angeles entre os dias 22 de fevereiro e 9 de março de 1974 – em pleno inferno astral da cantora que completaria 29 anos oito dias após terminadas as sessões de Elis & Tom.
Talvez por isso ela tenha escrito no encarte: “Nos meus dez anos de gravadora, ganhei de presente um encontro com Tom. Foram momentos vividos por duas pessoas muito tensas, que só conseguem descontrair através da música...”
E foi assim que aconteceu. Quando arregaçaram as mangas pra trabalhar todo o constrangimento e tensão se diluíram. Elis colocou voz praticamente ao vivo, sem necessidade de refazer takes, como já era costumeiro. Tom gravou seu piano e violão nos mesmos primeiros quatro dias em que o quinteto de cordas foi captado. Em seguida César e Aloysio se encarregaram de gravar as bases com os músicos brasileiros - acostumados a tocar juntos desde o início dos anos 70 – junto com o violão primoroso de Oscar Castro Neves.
Trinta e seis anos depois, ao escutar as 14 faixas do álbum e contemplar o sorriso de Elis e a expressão viva de Tom e seus óculos de leitura na capa, é difícil imaginar que de tanta tensão pudesse surgir uma obra-prima como Elis & Tom.
Para o Maestro, depois do susto, ficou a simpatia pelo projeto demonstrada num telefonema feito a César Camargo Mariano. Para Elis, seu melhor trabalho e o único em que ouvia sua voz com prazer. Para nós, pobres mortais, um verdadeiro presente para todos os aniversários de nossas vidas."
Texto do site http://immub.org
Para saber mais sobre Elis Regina e Tom Jobim, acesse:
Baixe o disco clicando no link ao lado: Elis & Tom (OBS: Caso não haja visualização da pasta com as faixas, clique em Download e depois em Fazer download mesmo assim)
Referências
- https://www.tomjobim.com.ar/p/musicas-letras-de-tom-jobim.html
- http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/consulta/detalhe.php?Id_Disco=DI00117
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Elis_%26_Tom#Faixas
- http://immub.org/noticias/elis-tom
- http://rodrigomattar.grandepremio.com.br/2013/01/discos-eternos-elis-tom-1974/
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