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Destaque
Postado por
Claudio Carvalho
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Álbum: Chico Buarque de Hollanda
Artista: Chico Buarque - "Francisco Buarque de Hollanda"
Ano: 1966
Gravadora: RGE
Arranjo: Grancisco de Mores
Produção: Manoel Barenbein
Técnico de Gravação: Stélio Carlini
Direção Artística: Júlio Nagib
Layout e Fotos: Dirceu Côrte-Real
Músicos participantes
Luiz Loy Quinteto
- Luís Loy: Piano
- Papudinho: Pistom
- Mazzola: Saxofone
- Bandeira: Contrabaixo
- Zinho: Bateria
Informações
- Player com as músicas do disco está disponível logo após as faixas.
- Demais músicos não creditados.
- Este é o disco de estréia de Chico Buarque.
- O álbum foi relançado nos anos de 1995 e 1997.
Faixas
1) A Banda
(Chico Buarque)
Letra
A Banda
Estava à toa na vida O meu amor me chamou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor A minha gente sofrida Despediu-se da dor Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor O homem sério que contava dinheiro parou O faroleiro que contava vantagem parou A namorada que contava as estrelas parou Para ver, ouvir e dar passagem A moça triste que vivia calada sorriu A rosa triste que vivia fechada se abriu E a meninada toda se assanhou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou A moça feia debruçou na janela Pensando que a banda tocava pra ela A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu A lua cheia que vivia escondida surgiu Minha cidade toda se enfeitou Pra ver a banda passar cantando coisas de amor Mas para meu desencanto O que era doce acabou Tudo tomou seu lugar Depois que a banda passou E cada qual no seu canto Em cada canto uma dor Depois da banda passar Cantando coisas de amorChico Buarque
2) Tem Mais Samba
(Chico Buarque)
Letra
Tem Mais Samba
Tem mais samba no encontro que na espera Tem mais samba a maldade que a ferida Tem mais samba no porto que na vela Tem mais samba o perdão que a despedida Tem mais samba nas mãos do que nos olhos Tem mais samba no chão do que na lua Tem mais samba no homem que trabalha Tem mais samba no som que vem da rua Tem mais samba no peito de quem chora Tem mais samba no pranto de quem vê Que o bom samba não tem lugar nem hora O coração de fora Samba sem querer Vem que passa Teu sofrer Se todo mundo sambasse Seria tão fácil viverChico Buarque
3) A Rita
(Chico Buarque)
Letra
A Rita
A Rita levou meu sorriso No sorriso dela Meu assunto Levou junto com ela E o que me é de direito Arrancou-me do peito E tem mais Levou seu retrato, seu trapo, seu prato Que papel! Uma imagem de São Francisco E um bom disco de Noel A Rita matou nosso amor De vingança Nem herança deixou Não levou um tostão Porque não tinha não Mas causou perdas e danos Levou os meus planos Meu pobres enganos Os meus vinte anos O meu coração E além de tudo Me deixou mudo Um violãoChico Buarque
4) Ela e Sua Janela
(Chico Buarque)
Letra
Ela e Sua Janela
Ela e sua menina Ela e seu tricô Ela e sua janela, espiando Com tanta moça aí Na rua o seu amor Só pode estar dançando Da sua janela Imagina ela Por onde hoje ele anda E ela vai talvez Sair uma vez Na varanda Ela e um fogareiro Ela e seu calor Ela e sua janela, esperando Com tão pouco dinheiro Será que o seu amor Ainda está jogando Da sua janela Uma vaga estrela E um pedaço de lua E ela vai talvez Sair outra vez Na rua Ela e seu castigo Ela e seu penar Ela e sua janela, querendo Com tanto velho amigo O seu amor num bar Só pode estar bebendo Mas outro moreno Joga um novo aceno E uma jura fingida E ela vai talvez Viver duma vez A vidaChico Buarque
5) Madalena Foi Pro Mar
(Chico Buarque)
Letra
Madalena Foi Pro Mar
Madalena foi pro mar E eu fiquei a ver navios Quem com ela se encontrar Diga lá no alto mar Que é preciso voltar já Pra cuidar dos nossos filhos Pra zombar dos olhos meus No alto mar a vela acena Tanto jeito tem de adeus Tanto adeus de Madalena É preciso não chorar Maldizer, não vale a pena Jesus manda perdoar A mulher que é Madalena Madalena foi pro mar E eu fiquei a ver naviosChico Buarque
6) Pedro Pedreiro
(Chico Buarque)
Letra
Pedro Pedreiro
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem Manhã, parece, carece de esperar também Para o bem de quem tem bem De quem não tem vintém Pedro pedreiro fica assim pensando Assim pensando o tempo passa E a gente vai ficando pra trás Esperando, esperando, esperando Esperando o sol Esperando o trem Esperando o aumento Desde o ano passado Para o mês que vem Pedro pedreiro penseiro esperando o trem Manhã, parece, carece de esperar também Para o bem de quem tem bem De quem não tem vintém Pedro pedreiro espera o carnaval E a sorte grande no bilhete pela federal Todo mês Esperando, esperando, esperando Esperando o sol Esperando o trem Esperando aumento Para o mês que vem Esperando a festa Esperando a sorte E a mulher de Pedro Está esperando um filho Pra esperar também Pedro pedreiro penseiro esperando o trem Manhã, parece, carece de esperar também Para o bem de quem tem bem De quem não tem vintém Pedro pedreiro está esperando a morte Ou esperando o dia de voltar pro Norte Pedro não sabe mas talvez no fundo Espera alguma coisa mais linda que o mundo Maior do que o mar Mas pra que sonhar Se dá o desespero de esperar demais Pedro pedreiro quer voltar atrás Quer ser pedreiro pobre e nada mais Sem ficar esperando, esperando, esperando Esperando o sol Esperando o trem Esperando o aumento para o mês que vem Esperando um filho pra esperar também Esperando a festa Esperando a sorte Esperando a morte Esperando o norte Esperando o dia de esperar ninguém Esperando enfim nada mais além Da esperança aflita, bendita, infinita Do apito do trem Pedro pedreiro pedreiro esperando Pedro pedreiro pedreiro esperando Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem Que já vem, que já vem, que já vemChico Buarque
7) Amanhã, Ninguém Sabe
(Chico Buarque)
Letra
Amanhã, Ninguém Sabe
Hoje, eu quero Fazer o meu carnaval Se o tempo passou, espero Que ninguém me leve a mal Mas se o samba quer que eu prossiga Eu não contrario não Com o samba eu não compro briga Do samba eu não abro mão Amanhã, ninguém sabe Traga-me um violão Antes que o amor acabe Traga-me um violão Traga-me um violão Antes que o amor acabe Hoje, nada Me cala este violão Eu faço uma batucada Eu faço uma evolução Quero ver a tristeza de parte Quero ver o samba ferver No corpo da porta-estandarte Que o meu violão vai trazer Amanhã, ninguém sabe Traga-me uma morena Antes que o amor acabe Traga-me uma morena Traga-me uma morena Antes que o amor acabe Hoje, pena seria esperar em vão Eu já tenho uma morena Eu já tenho um violão Se o violão insistir, na certa A morena ainda vem dançar A roda fica aberta E a banda vai passar Amanhã, ninguém sabe No peito de um cantador Mais um canto sempre cabe Eu quero cantar o amor Eu quero cantar o amor Antes que o amor acabeChico Buarque
8) Você Não Ouviu
(Chico Buarque)
Letra
Você Não Ouviu
Você não ouviu O samba que eu lhe trouxe Ai, eu lhe trouxe rosas Ai, eu lhe trouxe um doce As rosas vão murchando E o que era doce acabou-se Você me desconserta Pensa que está certa Porém não se iluda No fim do mês, quando o dinheiro aperta Você corre esperta E vem pedir ajuda Eu lhe procuro, mas você se esconde Não me diz aonde Nem quer ver seu filho No fim do mês é que você responde E no primeiro bonde Vem pedir auxílio Você diz que minha rosa é frágil Que o meu samba é plágio E é só lugar comum No fim do mês sei que você vem ágil Passa um curto estágio E eu fico sem nenhum A sua dança vai durar enquanto Você tem encanto E não tem solidão No fim da festa há de escutar meu canto E vir correndo em pranto Me pedir perdão (ou não?)Chico Buarque
9) Juca
(Chico Buarque)
Letra
Juca
Juca foi autuado em flagrante Como meliante Pois sambava bem diante Da janela de Maria Bem no meio da alegria A noite virou dia O seu luar de prata Virou chuva fria A sua serenata Não acordou Maria Juca ficou desapontado Declarou ao delegado Não saber se amor é crime Ou se samba é pecado Em legítima defesa Batucou assim na mesa O delegado é bamba Na delegacia Mas nunca fez samba Nunca viu MariaChico Buarque
10) Olê Olá
(Chico Buarque)
Letra
Olê, Olá
Não chore ainda não Que eu tenho um violão E nós vamos cantar Felicidade aqui Pode passar e ouvir E se ela for de samba Há de querer ficar Seu padre, toca o sino Que é pra todo mundo saber Que a noite é criança Que o samba é menino Que a dor é tão velha Que pode morrer Olê olê olê olá Tem samba de sobra Quem sabe sambar Que entre na roda Que mostre o gingado Mas muito cuidado Não vale chorar Não chore ainda não Que eu tenho uma razão Pra você não chorar Amiga me perdoa Se eu insisto à toa Mas a vida é boa Para quem cantar Meu pinho, toca forte Que é pra todo mundo acordar Não fale da vida Nem fale da morte Tem dó da menina Não deixa chorar Olê olê olê olá Tem samba de sobra Quem sabe sambar Que entre na roda Que mostre o gingado Mas muito cuidado Não vale chorar Não chore ainda não Que eu tenho a impressão Que o samba vem aí E um samba tão imenso Que eu às vezes penso Que o próprio tempo Vai parar pra ouvir Luar, espere um pouco Que é pro meu samba poder chegar Eu sei que o violão Está fraco, está rouco Mas a minha voz Não cansou de chamar Olê olê olê olá Tem samba de sobra Ninguém quer sambar Não há mais quem cante Nem há mais lugar O sol chegou antes Do samba chegar Quem passa nem liga Já vai trabalhar E você, minha amiga Já pode chorarChico Buarque
11) Meu Refrão
(Chico Buarque)
Letra
Meu Refrão
Quem canta comigo Canta o meu refrão Meu melhor amigo É meu violão Já chorei sentido De desilusão Hoje estou crescido Já não choro não Já brinquei de bola Já soltei balão Mas tive que fugir da escola Pra aprender essa lição Quem canta comigo Canta o meu refrão Meu melhor amigo É meu violão O refrão que eu faço É pra você saber Que eu não vou dar braço Pra ninguém torcer Deixa de feitiço Que eu não mudo não Pois eu sou sem compromisso Sem relógio e sem patrão Quem canta comigo Canta o meu refrão Meu melhor amigo É meu violão Eu nasci sem sorte Moro num barraco Mas meu santo é forte E o samba é meu fraco No meu samba eu digo O que é de coração Mas quem canta comigo Canta o meu refrão Quem canta comigo Canta o meu refrão Meu melhor amigo É meu violãoChico Buarque
12) Sonho De Um Carnaval
(Chico Buarque)
Letra
Sonho De Um Carnaval
Carnaval, desengano Deixei a dor em casa me esperando E brinquei e gritei e fui vestido de rei Quarta-feira sempre desce o pano Carnaval, desengano Essa morena me deixou sonhando Mão na mão, pé no chão e hoje nem lembra não Quarta-feira sempre desce o pano Era uma canção, um só cordão E uma vontade De tomar a mão De cada irmão pela cidade No carnaval, esperança Que gente longe viva na lembrança Que gente triste possa entrar na dança Que gente grande saiba ser criançaChico Buarque
Aperte play para ouvir todo o disco ou toque no nome da faixa que deseja ouvi.
Gostaria de compartilhar com vocês o trecho de um texto de Leonardo Lichote, no site o Globo na coluna de Cultura, intitulado: "Inspiração de meme, disco de estreia de Chico faz 50 anos em 2016". Nele estão contidas algumas informações sobre o disco.
"...
Produtor do disco “Chico Buarque de Hollanda”, de 1966, Manoel Barenbein não se lembra de onde partiu a ideia de fazer as duas faces antagônicas do compositor na capa:
— Nessa época, eu cuidava apenas da gravação em estúdio. A parte de arte era do Júlio Nagib (morto em 1983) — conta Barenbein. — Imagino que ele, Chico e Dirceu Corte-Real (que assina as fotos e o lay-out na ficha técnica do álbum) conversaram e chegaram juntos a essa ideia do Chico sorrindo e do Chico triste.
Naquela época, aos 22 anos, Chico era saudado como uma revelação altamente promissora. Por um lado, pelos compactos que já tinha lançado com “Pedro pedreiro”, “Sonho de um carnaval”, “Olê, olá” e “Meu refrão”. Por outro, por seu trabalho musicando o poema “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto, para o teatro. Mas, sobretudo, graças ao fenômeno “A banda”, vencedora, em outubro de 1966, do II Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record (empatada com “Disparada”, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, cantada por Jair Rodrigues) — o compacto de Nara Leão com a música vendeu 100 mil cópias em uma semana.
A gravadora RGE sabia que não poderia dispensar aquela popularidade — havia chegado a hora de lançar um álbum completo com a primeira safra das canções de Chico. O compositor já morava no Rio na época, e o estúdio era em São Paulo. Como Chico tinha outros compromissos na capital fluminense ao longo da semana, fizeram um esquema especial de gravação, abrindo o estúdio excepcionalmente aos domingos.
—Foi uma dificuldade conseguir reunir no domingo os técnicos de gravação e os músicos — lembra Barenbein. — No primeiro dia, marcamos às 14h. Chico não chegava, alguns músicos reclamando que “pô, o cara nem tem um disco e já é astro”... Quando bateu 15h30m, que era o nosso limite de espera, ele ainda não tinha aparecido. Eu disse: “Vambora”. Quando abrimos a porta do estúdio, o táxi de Chico parou, ele desceu correndo, pediu desculpas e voltamos todos correndo para gravar “A Rita” e “Juca”, as primeiras que registramos.
O álbum — que trazia canções que nasciam clássicas, como “A banda”, “A Rita”, “Pedro pedreiro”, “Olê, olá” — foi louvado pela crítica. No GLOBO, Sylvio Tullio Cardoso, que o chamou de “um disco perfeito” escreveu: “Lá está relativizada e mais otimista a filosofia de um Noel, lá está a riqueza melódica de um Vadico, lá está o balanço de um Janet de Almeida, um Vassourinha, um Ciro, um Mário Reis devidamente atualizado pela batida moderna de Toquinho (...). A música popular brasileira se reencontrou com Chico Buarque de Hollanda”.
No texto do encarte do disco, o próprio Chico lança seu olhar sobre as canções: “É preciso confessar que à experiência com a música de ‘Morte e vida Severina’, devo muito do que aí está. Aquele trabalho garantiu-me que melodia e letra devem e podem formar um só corpo. Assim foi que procurei frear o orgulho das melodias, casando-as, por exemplo, ao fraseado e repetição de ‘Pedro pedreiro’, saudosismo e expectativa de ‘Olê, olá’, angústia e ironia de ‘Ela e sua janela’, alegria e ingenuidade de ‘A banda’ etc”. No fim, brincava com as imagens da capa que, 50 anos depois, mantêm sua força: “Enfim, cabe salientar a importância do limão galego para a voz rouca de cigarros, preocupações e gols do Fluminense (só parei de chupar limão para tirar fotografias)”."
Leonardo Lichote
Link de acesso ao texto completo: "Inspiração de meme, disco de estreia de Chico faz 50 anos em 2016"
Comentário completo de Chico, sobre o disco:
"Pouco tenho a dizer além do que vai nestes sambas. De "Tem mais samba" a "Você não ouviu" resumo 3 anos da minha música.
E nestas linhas eu pretendia resumir a origem de tudo isso. Mas o samba chega à gente por caminhos longos e estranhos, sem maiores explicações. A música talvez já estivesse nos balões de junho, no canto da lavadeira, no futebol de rua...
É preciso confessar que a experiência com a música de "Morte e vida Severina", devo muito do que aí está. Aquele trabalho garantiu-me que melodia e letra devem e podem formar um só corpo. Assim foi que, procurei frear o orgulho das melodias, casando-as, por exemplo, ao fraseado e repetição de "Pedro pedreiro", saudosismo e expectativa de "Olê, olá", angústia e ironia de "Ela e sua janela", alegria e ingenuidade de "A banda" etc. Por outro lado a experiência em partes musicais (sem letra) para teatro e cinema, provou-me a importância do estudo e da pesquisa musical, nunca como ostentação e afastamento do "popular", mas sim como contribuição ao mesmo.
Quanto à gravação em si, muito se deve à dedicação e talento do Toquinho, violonista e amigo de primeira. Franco e Vergueiro foram palpiteiros oportunos, Mané Berimbau com seus braços urgentes foi um produtor eficiente, enquanto que Mug assistiu a tudo com santa seriedade. Enfim, cabe salientar a importância do limão galego para a voz rouca de cigarros, preocupações e gols do Fluminense (só parei de chupar limão para tirar fotografias. Sem mais, um abraço e até a próxima."
Chico Buarque
Para saber mais sobre Chico Buarque e Luiz Loy Quinteto acesse:
Referências
Gostaria de compartilhar com vocês o trecho de um texto de Leonardo Lichote, no site o Globo na coluna de Cultura, intitulado: "Inspiração de meme, disco de estreia de Chico faz 50 anos em 2016". Nele estão contidas algumas informações sobre o disco.
"...
Produtor do disco “Chico Buarque de Hollanda”, de 1966, Manoel Barenbein não se lembra de onde partiu a ideia de fazer as duas faces antagônicas do compositor na capa:
— Nessa época, eu cuidava apenas da gravação em estúdio. A parte de arte era do Júlio Nagib (morto em 1983) — conta Barenbein. — Imagino que ele, Chico e Dirceu Corte-Real (que assina as fotos e o lay-out na ficha técnica do álbum) conversaram e chegaram juntos a essa ideia do Chico sorrindo e do Chico triste.
Naquela época, aos 22 anos, Chico era saudado como uma revelação altamente promissora. Por um lado, pelos compactos que já tinha lançado com “Pedro pedreiro”, “Sonho de um carnaval”, “Olê, olá” e “Meu refrão”. Por outro, por seu trabalho musicando o poema “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto, para o teatro. Mas, sobretudo, graças ao fenômeno “A banda”, vencedora, em outubro de 1966, do II Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record (empatada com “Disparada”, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, cantada por Jair Rodrigues) — o compacto de Nara Leão com a música vendeu 100 mil cópias em uma semana.
A gravadora RGE sabia que não poderia dispensar aquela popularidade — havia chegado a hora de lançar um álbum completo com a primeira safra das canções de Chico. O compositor já morava no Rio na época, e o estúdio era em São Paulo. Como Chico tinha outros compromissos na capital fluminense ao longo da semana, fizeram um esquema especial de gravação, abrindo o estúdio excepcionalmente aos domingos.
—Foi uma dificuldade conseguir reunir no domingo os técnicos de gravação e os músicos — lembra Barenbein. — No primeiro dia, marcamos às 14h. Chico não chegava, alguns músicos reclamando que “pô, o cara nem tem um disco e já é astro”... Quando bateu 15h30m, que era o nosso limite de espera, ele ainda não tinha aparecido. Eu disse: “Vambora”. Quando abrimos a porta do estúdio, o táxi de Chico parou, ele desceu correndo, pediu desculpas e voltamos todos correndo para gravar “A Rita” e “Juca”, as primeiras que registramos.
O álbum — que trazia canções que nasciam clássicas, como “A banda”, “A Rita”, “Pedro pedreiro”, “Olê, olá” — foi louvado pela crítica. No GLOBO, Sylvio Tullio Cardoso, que o chamou de “um disco perfeito” escreveu: “Lá está relativizada e mais otimista a filosofia de um Noel, lá está a riqueza melódica de um Vadico, lá está o balanço de um Janet de Almeida, um Vassourinha, um Ciro, um Mário Reis devidamente atualizado pela batida moderna de Toquinho (...). A música popular brasileira se reencontrou com Chico Buarque de Hollanda”.
No texto do encarte do disco, o próprio Chico lança seu olhar sobre as canções: “É preciso confessar que à experiência com a música de ‘Morte e vida Severina’, devo muito do que aí está. Aquele trabalho garantiu-me que melodia e letra devem e podem formar um só corpo. Assim foi que procurei frear o orgulho das melodias, casando-as, por exemplo, ao fraseado e repetição de ‘Pedro pedreiro’, saudosismo e expectativa de ‘Olê, olá’, angústia e ironia de ‘Ela e sua janela’, alegria e ingenuidade de ‘A banda’ etc”. No fim, brincava com as imagens da capa que, 50 anos depois, mantêm sua força: “Enfim, cabe salientar a importância do limão galego para a voz rouca de cigarros, preocupações e gols do Fluminense (só parei de chupar limão para tirar fotografias)”."
Leonardo Lichote
Link de acesso ao texto completo: "Inspiração de meme, disco de estreia de Chico faz 50 anos em 2016"
Comentário completo de Chico, sobre o disco:
"Pouco tenho a dizer além do que vai nestes sambas. De "Tem mais samba" a "Você não ouviu" resumo 3 anos da minha música.
E nestas linhas eu pretendia resumir a origem de tudo isso. Mas o samba chega à gente por caminhos longos e estranhos, sem maiores explicações. A música talvez já estivesse nos balões de junho, no canto da lavadeira, no futebol de rua...
É preciso confessar que a experiência com a música de "Morte e vida Severina", devo muito do que aí está. Aquele trabalho garantiu-me que melodia e letra devem e podem formar um só corpo. Assim foi que, procurei frear o orgulho das melodias, casando-as, por exemplo, ao fraseado e repetição de "Pedro pedreiro", saudosismo e expectativa de "Olê, olá", angústia e ironia de "Ela e sua janela", alegria e ingenuidade de "A banda" etc. Por outro lado a experiência em partes musicais (sem letra) para teatro e cinema, provou-me a importância do estudo e da pesquisa musical, nunca como ostentação e afastamento do "popular", mas sim como contribuição ao mesmo.
Quanto à gravação em si, muito se deve à dedicação e talento do Toquinho, violonista e amigo de primeira. Franco e Vergueiro foram palpiteiros oportunos, Mané Berimbau com seus braços urgentes foi um produtor eficiente, enquanto que Mug assistiu a tudo com santa seriedade. Enfim, cabe salientar a importância do limão galego para a voz rouca de cigarros, preocupações e gols do Fluminense (só parei de chupar limão para tirar fotografias. Sem mais, um abraço e até a próxima."
Chico Buarque
Para saber mais sobre Chico Buarque e Luiz Loy Quinteto acesse:
Baixe o disco clicando no link ao lado: Chico Buarque de Hollanda (OBS: Caso não haja visualização da pasta com as faixas, clique em Download e depois em Fazer download mesmo assim)
- http://www.chicobuarque.com.br
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Buarque_de_Hollanda_(%C3%A1lbum)
- https://oglobo.globo.com/cultura/musica/inspiracao-de-meme-disco-de-estreia-de-chico-faz-50-anos-em-2016-18398846
- http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/consulta/detalhe.php?Id_Disco=DI00754
- http://maisumadofalsario.blogspot.com/2016/03/1966-chico-buarque-de-hollanda.html
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