Em pé da esquerda para a direita.: Elton Medeiros, Turíbio Santos (Não integrante do conjunto), Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Jair do Cavaquinho, Anescarzinho do Salgueiro. Sentados da esquerda para a direita.: Clementina de Jesus, Aracy de Almeida (Não integrante do conjunto) e Aracy Cortes
Nome: Conjunto Rosa de Ouro
Apresentações: 1965 e 1967
Integrantes: Clementina de Jesus, Aracy Cortes, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho, Anescarzinho do Salgueiro e Paulinho da Viola.
Confesso que quando terminei o trabalho sobre Paulinho da Viola, prometi a mim mesmo que iria "sair um pouco do tema". Inicialmente seria o grande Mestre Marçal, mas acabei esbarrando no segundo disco do Conjunto A Voz do Morro e pensei: Por que não eles ? Resolvi então iniciar as pesquisas sobre este conjunto e compartilhar suas obras, mas ai....duas coisas me ocorreram: Como falar de A Voz do Morro sem falar do Conjunto Rosa de Ouro ? E como falar do Rosa sem falar em Zicartola ? Achei impossível fazê-lo e, então, resolvi fazer uma pesquisa mais abrangente e que abordasse um pouco dessas três histórias interligada e muito importantes para a nossa música e, especialmente para o Samba.
Tudo começa em 1964/1965, quando Zé Keti reuni alguns bambas de peso, mas sem espaço para mostrar suas obras. Dentre eles estavam: Elton Medeiros, Zé Cruz, Oscas Bigode, Nelson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho e garoto Paulinho da Viola. No Zicartola eles se reuniam e faziam as famosas rodas de samba na Ruas da Carioca Nº 53, reduto de gente do samba e da efervescente Bossa Nova, que vivia seus anos dourados, com Nara Leão sendo a grande musa do momento e frequentadora do local. Entre músicas, cervejas e gente do mais alto gabarito cultural estava Hermínio Bello de Carvalho, que também terá seu espaço no blog no futuro, e teve a sacada de reunir alguns desses bambas e acrescentar o talento de Aracy Cortes(Que foi resgatada do Retiro dos Artistas, Jacarepaguá, onde vivia, após seu apogeu artístico) e a "surpresa" Clementina de Jesus. Estava formado o time que representaria o espetáculo Rosa de Ouro que resgatou canções das décadas anteriores e apresentou "ao mundo" alguns desconhecidos gênios da música.
O Conjunto a Voz do Morro, em paralelo, seguiu seu caminho gravando 3 álbuns históricos para a nossa cultura musical e deu início à nova dinastia do samba que teria/tem como príncipe Paulinho da Viola. Sem dúvida a base que ele obteve ao lado desses grandes mestres do samba o preparou para ser o símbolo e referência maior da era pós Cartola/Nelson Cavaquinho no samba.
Zicartola não teve vida muito longa (Foram somente 20 meses de funcionamento) mas o pouco tempo que viveu foi muito, mas muito importante para o samba, a música e, em geral, a cultura brasileira. Vou deixar aqui abaixo mais conteúdos extraídos de outras fontes para que vocês possam conhecer um pouco mais sobre esse ponto importante da nossa história, mas vou deixar para falar do Conjunto A Voz do Morro(Clique para ver) em um post separado, pois, apesar de contemporâneos, são trabalhos diferentes. Vamos lá !
O Zicartola
O Zicartola (acrônimo de Zica e Cartola) foi um restaurante aberto na cidade do Rio de Janeiro pelo compositor e sambista Angenor de Oliveira, o Cartola, e sua mulher Euzébia Silva do Nascimento, a Dona Zica. Foi ponto de encontro de sambistas de destaque na cultura brasileira, como Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva e Aracy de Almeida, e grandes nomes da bossa nova, como Carlos Lyra e Nara Leão. Também foi palco do lançamento de Paulinho da Viola. O talento gastronômico de Dona Zica, foi decisivo na alavancada obtida na vida do casal, pois, conforme um depoimento seu, registrado na biografia de Cartola, ela, na década de 1960, foi comandar um vatapá, na casa de Benjamin Eurico Cruz, e fez um contato do qual viria a surgir embrião do que em outro endereço viria a ser o futuro Zicartola, na Associação das Escolas de Samba, ainda na Rua dos Andradas, 81. O Zicartola (razão social "Refeição Caseira Ltda.") foi criado em 5 de setembro de 1963 quando seu primeiro contrato foi assinado pelos sócios Eugênio Agostini Netto, seus primos Renato e Fábio Agostini Xavier e Dona Zica. O estabelecimento funcionava no segundo nível de um sobrado de três andares localizado na Rua da Carioca, número 53, onde também moravam, no terceiro pavimento, Cartola e Zica. A criação de um restaurante era um sonho antigo de Dona Zica, que admitia possuir vocação para a cozinha.
Menu do Zicartola, desenhado por Heitor dos Prazeres e com as assinaturas do próprio, dos proprietários Cartola e Zica e por Ismael Silva, Aracy de Almeida, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho, Zé Keti e Elton Medeiros.
Em seus primeiros meses, o Zicartola apenas servia refeições. Ao fim da tarde, sambistas encerravam o dia de trabalho ao som de batucadas. Com o crescimento das escolas de samba na década de 1960, os antigos compositores, que perderam espaço com este fenômeno, passaram a buscar refúgio no restaurante. Entre eles, Zé Keti era o mais entusiasmado: além de divulgar a casa a diversas rádios e jornais, o cantor e compositor teve a ideia de aproveitar a reunião de sambistas no local para realizar noitadas de samba. As apresentações no Zicartola ocorreram nas noites de quarta e sexta-feira.
Foto: Samuel Elyacha – Cartola, Odete Lara, Dorival Caymmi e Roberto Menescal – 1964 – Tyba
Zé Keti e o poeta Hermínio Bello de Carvalho criaram no Zicartola a "Ordem do Cartola Dourada", um reconhecimento aos grandes nomes da música brasileira. Os homenageados tinham seus rostos representados em quadros colocados nas paredes do restaurante. Tom Jobim, Dorival Caymmi, Elizeth Cardoso e Ciro Monteiro foram algumas dessas personalidades. A inauguração do Zicartola ocorreu quando o local já era conhecido e sua festa de lançamento foi um sucesso. O compositor Paulinho da Viola, na época desconhecido, foi revelado no restaurante. A convite de Hermínio Bello de Carvalho, o então bancário Paulo César Batista de Faria foi levado ao Zicartola, onde fez parte do conjunto que acompanhava os cantores que lá se apresentavam. Com seu sucesso, o jornalista Sérgio Cabral, também frequentador da casa, escreveu sobre Paulo César em sua coluna no Jornal do Brasil. O apelido "Paulinho da Viola" foi dado pelo jornalista, que definiu que "Paulo César" não era nome de sambista. Com o início do regime militar no Brasil, em 1964, o Zicartola foi local de reuniões entre pessoas contrárias ao regime. O sobrado foi palco de lançamentos de livros de autores como Viriato Corrêa e discursos contra os militares. Além disso, também havia a defesa cultural da música brasileira, que, segundo os que lá se reuniam, estava ameaçada pela canção estrangeira, sobretudo a americana.
Foto: Samuel Elyacha – Nara Leão tocando violão no ZiCartola, ao lado de Ze Keti.
20 meses após sua abertura, o Zicartola foi fechado em maio de 1965 por problemas administrativos. Eugênio Agostini e seus primos saíram da sociedade, deixando todas as suas quotas para Dona Zica. Por não saber administrar o empreendimento, o casal passou o sobrado para Jackson do Pandeiro, que tentou fazer um restaurante parecido, com a diferença de que ofereceria forró e comida nordestina, mas não obteve sucesso. O local foi fechado em pouco tempo
Em 2011, o restaurante foi lembrado no desfile da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, que homenageou o compositor Nelson Cavaquinho no carnaval do Rio de Janeiro. Além de ser citado na letra do samba-enredo da escola, o Zicartola também foi representado em um carro alegórico.
Texto extraído do site Wikipédia
Dois videos muito bacanas que gostaria de compartilhar com vocês, trazem mais algumas informações sobre o importantíssimo Zicartola.
O segundo é um trecho do documentário Ocupação Cartola, produzido pelo Itaú Cultural.
Documentário: Ocupação Cartola
Ano: 2016
Participação: Monarco, Hildo Hora e Nilcemar Nogueira (Neta de Cartola e Dona Zica)
Créditos Gerais:
Gerente do Núcleo de Música: Edson Natale
Coordenadora do Núcleo de Música: Andreia Schinasi Araújo
Gerente no Núcleo Enciclopédia: Tânia Rodrigues
Gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura: Claudiney Ferreira
Coordenadora do Núcleo de Audiovisual e Literatura: Kety Fernandes Nassar
Produção audiovisual: Camila Fink
Entrevista: Maria Clara Matos
Captação: Karina Fogaça e Cassandra Mello (terceirizada)
Edição: Karina Fogaça
Técnico de som: Tomás Franco (terceirizado)
O Rosa de Ouro Rosa de Ouro, o show que marcou posição para o samba e o canto africano
Além daquela"Noite de 1967", há outra noite dos anos 60 que merece ser documentada. Por volta das 23h de 18/03/1965, no Teatro Jovem, em Botafogo, era apresentado um espetáculo idealizado por Hermínio Bello de Carvalho (Produzido juntamente com Kléber Santos), poeta, compositor, produtor, homem de ideias e paixões que, felizmente, desembocaram em ações que marcaram a história da nossa música.
Clementina de Jesus e Hermínio Bello de Carvalho
No início da década de 60, a fama de Cartola como compositor de sambas cantados pelas vozes do rádio já havia começado e acabado, ficavam agora nos distantes anos 30. Após perder espaço, o sambista trabalhava como zelador na sede da Associação das Escolas de Samba, no Centro. Para ajudar na renda, sua mulher Dona Zica vendia refeições, que eram apreciadas e elogiadas também nos encontros da Associação. O sucesso da comida e a oportunidade de construir um refúgio para os boêmios que ficavam sem opção altas horas da noite levaram à abertura do Zicartola, restaurante que juntava o nome dos proprietários.
Atrás estão Nelson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho e Elton Medeiros e, à frente, Clementina de Jesus.
O crescimento das escolas de samba acabou ocupando cada vez mais espaço na Associação, e acabou escanteando a velha guarda, que foi naturalmente migrando para o Zicartola. O restaurante ficava no segundo andar (o primeiro abrigava uma alfaiataria e no terceiro moravam Dona Zica e Cartola). Ali funcionava o estabelecimento normalmente no almoço, e conforme caía a tarde chegavam os sambistas sem hora para ir embora. Hermínio era um dos frequentadores de ouvidos atentos. Buscava articular os talentos que ouvia aqui e ali. Da vida de bancário resgatou Paulinho da Viola, e de apresentações no restaurante Taberna da Glória, Clementina de Jesus.
Da esquerda para a direita estão Paulinho da Viola, Clementina de Jesus, Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do Salgueiro.
Ávido por colocar aquela reunião de talentos e a obra que ficava confinada nas rodas para receber o devido reconhecimento, Hermínio montou o espetáculo Rosa de Ouro, mesclando sambas tocados por Paulinho da Viola e os 4 Criolos (Elton Medeiros, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho e Nelson Sargento), sambas tradicionais cantados por Araci Cortes e cantos de origem africana na voz arrepiante de Clementina.
Folheto do espetáculo
Roteiro do espetáculo
Ficha técnica do espetáculo
Previsto para ficar um mês em cartaz, o espetáculo não só se estendeu por 12 como ainda retornou em 1967 para mais um temporada. Ambas as apresentações renderam dois álbuns com algumas músicas dos shows.
Da esquerda para a direita estão Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Clementina de Jesus.
Em meio ao resgate dos sambas, o show tem esse valor histórico inestimável de apresentar Clementina ao grande público. No ano anterior, 64, ela já havia participado do show “O Menestrel”, também montado por Hermínio, mas o Rosa de Ouro teve impacto maior. A cantora que começou carreira após os 60 anos, após décadas trabalhando como empregada doméstica, tinha um repertório valioso. Músicas que saíram do Golfo da Guiné, na costa ocidental da África, chegaram a sua mãe, escravizada liberta, e foram transmitidas à “Rainha Negra”. (Texto extraído e adaptado do site estacaoparatodos)
De baixo para cima estão Jair do Cavaquinho, Aracy Cortes (Esquerda), Clementina de Jesus, Anescarzinho do Salgueiro (Esquerda), Elton Medeiros e Paulinho da Viola.
Um trecho do programa o "O Som do Vinil", de Charles Gavin, traz alguns dos integrantes do espetáculo falando a respeito do Rosa. Infelizmente não consegui encontrar o programa completo.
Programa: O Som do Vinil
Apresentação: Charles Gavin
Participação: Hermínio Bello de Carvalho, Elton Medeiros e Nelson Sargento.
Paulinho da Viola e Os Quatro Criolos foram fundamentais para o sucesso do Rosa de Ouro e o encontrou gerou uma grande amizade entre os integrantes que transcendeu décadas. Abaixo, dois videos que elucidam bem a interação destes personagens históricos da nossa música.
O primeiro trata-se do programa Ensaio, da TV Cultura, onde Paulinho da Viola é surpreendido com a presença surpresa dos Quatro Criolos, e contam um pouco da história do nosso samba, fazendo críticas ao modelo atual de gestão das escolas de samba do Rio de Janeiro e as "rodas de samba" que se perpetuam até hoje. Vale lembrar que o programa foi gravado no ano de 1990.
Programa: Ensaio
Canal: TV Cultura
Apresentação: Fernando Faro
Participação: Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do Salgueiro.
Local: Teatro Franco Zampari
Dez anos antes, a turma se reuniu em um show de Paulinho da Viola e cantou alguns sambas que estão na memória de toda gente. O show, da SÉRIE GRANDES NOMES, foi organizado e transmitido pela Rede Globo e saiu anos depois em DVD.
Programa: Série Grandes Nomes TV Globo
Direção e Produção Musical: Guto Graça Mello
Direção: Daniel Filho
Capa do DVD
Contracapa do DVD
Para complementar as informações sobre a história deste time de músicos históricos, acesse também o posto sobre o Conjunto A Voz do Morro.
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