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Destaque
Postado por
Claudio Carvalho
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Álbum: Gil & Jorge: Ogum, Xangô
Artistas: Gilberto Gil e Jorge Ben
Ano: 1975
Gravadora: Philips/Phonogram
Arranjos: Gilberto Gil, Jorge Ben
Produção: Paulinho Tapajós e Perinho Albuquerque
Direção de Arte: Jorge Vianna
Capa: Aldo Luiz e Rogério Duarte
Fotos: João Castrioto
Músicos participantes
- Gilberto Gil: Violão
- Jorge Ben: Violão
- Wagner Dias: Baixo
- Djalma Corrêa: Percussão
Informação
- Player com as músicas do disco está disponível logo após as faixas.
Faixas
1) Meu Glorioso São Cristóvão
(Jorge Ben)
Letra
Meu Glorioso São Cristóvão
Meu glorioso São Cristóvão Meu glorioso mártir Meu glorioso mártir portador de cristo intercedei por nós Nos flagelos terremotos, incêndios inundações Nas viagens de terra Subterrâneo, mar e ar Livrai-nos do pecado Do pecado da perdição Conduzimo-nos a Deus Até o porto seguro da felicidade eterna Imploramos porJesus Cristo Que conduziste nos ombros amém Meu glorioso São Cristóvão (meu glorioso São Cristóvão) Meu glorioso mártir (Meu glorioso mártir) Portador de cristo intercedei por nós (portador de cristo intercedei, intercedei por nós) Nos flagelos terremotos, incêndios inundações (Nos flagelos terremotos, incêndios inundações) Nas viagens de terra Subterrâneo, mar e ar Nas viagens de terra subterrâneo, mar e ar Livrai-nos do pecado da perdição (livrai-nos do pecado da perdição, do pecado da perdição) Conduzimo-nos a Deus (conduzimo-nos a Deus) Até o porto seguro da felicidade eterna Conduzimo-nos a Deus Até o porto seguro da felicidade eterna Imploramos porJesus Cristo Que conduziste nos ombros amém Imploramos porJesus Cristo Que conduziste nos ombros amém Imploramos porJesus Cristo Que conduziste nos ombros amém meu São Cristóvão, amém Meu São Cristóvão, amém Meu glorioso São Cristóvão Meu glorioso mártir (meu glorioso mártir) Meu glorioso São Cristóvão (Meu glorioso São Cristóvão) Meu glorioso mártir (eu glorioso mártir) Portador de cristo intercedei por nós Nos flagelos terremotos, incêndios inundações (nos flagelos terremotos, incêndios inundações) Nas viagens de terra (nas viagens de terra) Subterrâneo, mar e ar (subterrâneo, mar e ar) Livrai-nos do pecado da perdição (livrai-nos do pecado da perdição) Conduzimo-nos a Deus (conduzimo-nos a Deus) Conduzimo-nos a Deus (conduzimo-nos a Deus) Até o porto seguro da felicidade eterna (até o porto seguro da felicidade eterna) Até o porto seguro da felicidade eterna (até o porto seguro da felicidade eterna) Imploramo porJesus Cristo (imploramos porJesus Cristo) Que conduziste nos ombros (que conduziste nos ombros) Imploramo porJesus Cristo (imploramos porJesus Cristo) Que conduziste nos ombros (que conduziste nos ombros) Amém meu glorioso São Cristóvão (amém meu glorioso São Cristóvão) Amém, amém, amém meu glorioso São Cristóvão (meu glorioso mártir) (meu glorioso mártir) Amém meu glorioso São Cristóvão (amém meu glorioso São Cristóvão) Amém meu glorioso São Cristóvão (meu glorioso São Cristóvão) Meu meu glorioso São Cristóvão meu glorioso mártir (meu glorioso mártir) Portador de cristo intercedei por nós Nos flagelos terremotos, incêndios inundações Nas viagens de terra, mar e ar (subterrâneo, mar e ar) Livrai-nos do pecado da perdição Conduzimo-nos a Deus Até o porto seguro da felicidade eterna Imploro porJesus Cristo Que conduzis- Que conduziste nos ombros, amém Meu glorioso São Cristóvão Amém, amém, amém, amém, amém, amémJorge Ben
2) Nega
(Gilberto Gil)
Letra
Nêga
Nega You spent so blissfully The last few days with me Nega I spent so nicely too The last few days with you When I met you, it was so fine I didn't talk a lot to you I only mentioned your smooth hair You made a speech about shampoo We took many, many, many photographs Downtown As we passed through Nega You spent so blissfully The last few days with me Nega I spent so nicely too The last few days with you You've been going just where I've gone All my people you have seen I've been doing just what you've done Now I can dig your cup of mu tea We let our moments become, become What they really had to be Nega You spent so blissfully The last few days with me Nega I spent so nicely too The last few days with you Develop our photographs As simple dreams that will come true Perhaps they will make you laugh Or make you sure about we two Develop, baby, our photographs Perhaps they will make you sure Perhaps they will show you nothing Nothing, but a shade of blueGilberto Gil
3) Jurubeba
(Gilberto Gil)
Letra
Jurubeba
Juru juru juru juru juru jurubeba Beba beba beba beba beba beba juru Jurubeba Licor licor licor licor licor de jurubeba Beba chá de juru, beba chá de jurubeba Oba, bicharada viva, pé de jurubeba Jurubeba Canta, passarada linda, flor de jurubeba Quem procura acha cura, flor de jurubeba Quem procura acha na raiz de jurubeba Tudo que é de bom pro figueredo e que se beba Feito vinho, feito chá De licor, de infusão Jurubeba, jurubeba, planta nobre do sertãoGilberto Gil
4) Quem Mandou (Pé na Estrada)
(Jorge Ben)
Letra
Quem Mandou (Pé na Estrada)
Quem mandou (Pé na estrada) Quem mandou você brincar de amor comigo, amor (Quem mandou, quem mandou?) Eu te amo Eu te quero Eu te gosto, meu amor Eu te adoro Que gamação danada Não sei se fico ou se meto o pé na estrada Quem mandou? Eu te amo, eu te amo, eu te amo...Jorge Ben
5) Taj Mahal
(Jorge Ben)
Letra
Taj Mahal
Foi a mais linda História de amor Que me contaram E agora eu vou contar Do amor do príncipe Shah-Jehan pela princesa Mumtaz Mahal Do amor do príncipe Shah-Jehan pela princesa Nil Mahal... Tê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê Taj Mahal Taj Mahal Taj Mahal Taj Mahal Tê Tê, Têtêretê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê... Taj Mahal Taj Mahal Taj Mahal Taj Mahal Uhou! Uhou! Tê Tê, Têtêretê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê Tê Tê Foi a mais linda História de amor Que me contaram E agora eu vou contar Do amor do príncipe Shah-Jehan pela princesa Mumtaz Mahal Do amor do príncipe Shah-Jehan pela princesa Mumtaz Mahal... Tê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê, Têtêretê Tê Tê,…Jorge Ben
6) Morre o Burro, Fica o Homem
(Jorge Ben)
Letra
Morre o Burro, Fica o Homem
Se ela disser que não lhe quer mais, Há há há há Arranje outra, meu rapaz Hum hum Se ele disser que não volta mais Há há há há Arranje outra, meu rapaz Hum hum Pois neste mundo maravilhoso vive mal Quem não vive de amor Ô ô ô Olha as margaridas na janela Você querendo também pode conquistar uma delas Há há há há É a tristeza que some Morre o burro, fica o homem Morre o burro, fica o homem Se ela disser que não lhe quer mais, Há há há há Arranje outra, meu rapaz Hum hum Se ele disser que não volta mais Há há há há Arranje outra, meu rapaz Hum hum Hum hum Hum hum Hum hum Hum hum Hum hum Tá tá tá rá Tá tá tá rá Tá tá tá rá Tá tá tá rá Tá tá tá ráJorge Ben
7) Essa É pra Tocar no Rádio
(Gilberto Gil)
Letra
Essa É pra Tocar no Rádio
Essa é pra tocar no rádio Essa é pra tocar no rádio Essa é pra vencer o tédio Quando pintar Essa é um santo remédio Pro mau humor Essa é pro chofer de táxi Não cochilar Essa é pro querido ouvinte Do interior Essa é pra tocar no rádio Essa é pra tocar no rádio Essa é pra sair de casa Pra trabalhar Essa é pro rapaz da loja Transar melhor Essa é pra depois do almoço Moço do bar Essa é pra moça dengosa Fazer amor Essa é pra tocar no rádio Essa é pra tocar no rádioGilberto Gil
8) Filhos de Gandhi
(Gilberto Gil)
Letra
Filhos de Gandhi
Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré Todo o pessoal Manda descer pra ver Filhos de Gandhi Iansã, Iemanjá, chama Xangô Oxossi também Manda descer pra ver Filhos de Gandhi Mercador, Cavaleiro de Bagdá Oh, Filhos de Obá Manda descer pra ver Filhos de Gandhi Senhor do Bonfim, faz um favor pra mim Chama o pessoal Manda descer pra ver Filhos de Gandhi Oh, meu pai do céu, na terra é carnaval Chama o pessoal Manda descer pra ver Filhos de GandhiGilberto Gil
9) Sarro
(Gilberto Gil, Jorge Ben)
Aperte play para ouvir todo o disco ou toque no nome da faixa que deseja ouvi.
O encontro deste dois gênio até a produção do álbum tem um loonga história. Gostaria de compartilha o ótimo texto de Vitor Ranieri, do site Soul Art que retrata muito bem todo o contexto deste antológico álbum:
"Maio de 1973. No Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, está o primeiro time da gravadora Phonogram. Não, não é um dos grandes festivais. Em vez de competição, a ideia é somar. Cada artista sobe ao palco e apresenta uma canção conhecida do público, uma inédita, e de repente uma parceria com outro cantor. Aqui estão Elis, Vinícius, Toquinho, Caetano, Erasmo, Gal, Bethânia, Chico, Simonal, Jair Rodrigues, Raul e tantos outros. Estão aqui também Gilberto Gil e Jorge Ben, os personagens principais da história que a seguir será contada.
Em 1973, Gil havia regressado recentemente de Londres, onde amargurou o exílio ao lado de Caetano. Jorge passava por uma transição, uma nova sonoridade após discos quase perfeitos com o Trio Mocotó. Gil era Expresso 2222, Oriente e Back to Bahia. Jorge era Charles Jr., Cosa Nostra e Por que é proibido pisar na grama. Eis que então acontece no palco, diante dos olhos de todos, em um raro momento onde o sublime metafísico se faz visível, o encontro de duas das almas mais brilhantes da história da música. Cercados por pessoas extasiadas, Gil e Jorge ritualizam Jazz Potatoes e Filhos de Gandhi, enquanto Caetano se debruça sobre os pés de Ben, testa ao solo em admiração.
O que aconteceu no Phono 73 seria o suficiente para uma boa história. Mas a amizade entre os dois gênios da música popular brasileira estava só começando. Dois anos se passaram até o episódio seguinte. Anos que viram acontecer coisas como o lançamento da Tábua de Esmeraldas e o Maracatu Atômico, com Jorge Mautner. Era 1975 e o produtor musical Robert Stigwood, dono da RSO Records, agenciava um dos mais aclamados guitarristas de todos os tempos, o “Slowhand” Eric Clapton. Stigwood decidiu trazer o músico britânico para passar férias no Brasil, e transmitiu a seguinte ideia pelo telefone ao amigo André Midani, presidente da Phonogram à época: “por que você não faz uma reunião do Clapton com os artistas brasileiros?”. Seria uma noite inesquecível para a música.
Para o jantar na casa de Midani foram convidados Caetano, Rita Lee, Erasmo Carlos, e entre outros nomes, Gil e Jorge. “O Eric chegou com a guitarra dele, uma guitarra toda branca que na época fez todo mundo dizer ‘oooh’. Aí os meninos foram buscar cada qual um instrumento qualquer. O Caetano um violão, o Gil um violão, a Rita tomou emprestado um violão. Tinha esses que eu mencionei, tinha certamente o Erasmo, tinha o Cat Stevens também – era um grupo de certa qualidade. Teve um momento onde todo mundo se sentou no chão, e começaram, assim, como quem não quer nada, a tocar”, conta Midani. “De repente, o Cat saiu da roda, a Rita também, não sei se nessa ordem, saiu o Caetano. Eu sei que no fim ficaram Clapton, Gil e Jorge. Aí o Clapton disse: “para mim não dá mais”. E também saiu. Ficaram só Gil e Jorge e foi memorável, memorável”, completa.
Na memória de Jorge Ben a história é um pouco diferente. “O Midani pediu ao Eric Clapton para tocar. Todos queriam ver o considerado monstro da guitarra, pô. Ele fez doce e não tocou, não quis tocar pra gente. Aí, o Midani falou assim: ‘Já que ele não quer tocar, toca vocês aí e mostra pra ele como é que é’. Aí, eu e Gil, começamos a tocar e a coisa foi esquentando”. Do resultado da jam, entretanto, os dois se lembram bem. “Eu fiquei tão impressionado, mas tão impressionado, que eu virei e disse pro (Armando) Pitigliani: ‘amanhã os dois têm que entrar no estúdio’. Não foi ‘amanhã’, claro, porque todo mudo foi dormir 5 horas da manhã, mas dois, três, quatro dias depois”, conta o presidente da gravadora à época.
Alguns dias depois, portanto, Gil e Jorge entraram em estúdio para gravar um disco juntos. Sem grandes ensaios, sem partituras, sem muita edição. Acompanhados de Wagner Dias, no baixo, Djalma Corrêa, na percussão, algumas garrafas de licor de jurubeba (uma erva medicinal encontrada no sertão nordestino com a qual se faz remédios e uma espécie de “vinho”), e sabe-se lá quais mais aperitivos, dois dos violões mais criativos da música brasileira se comunicaram por horas, em um balé da criatividade, um resgate à essência tribal do uso dos instrumentos musicais. Juntos, inventaram de improviso um universo paralelo, sofisticado, construído pela expressão sincera de palavras, sons e sentimentos.
Nove músicas foram gravadas em dois dias de estúdio, quatro delas ultrapassando os 10 minutos de duração. Misturando no repertório algumas canções de Gil (Nega, Essa É pra Tocar no Rádio) com outras de Jorge (Morre o Burro Fica o Homem, Taj Mahal), e outras criadas na hora (Jurubeba, Meu Glorioso São Cristóvão), Gil e Jorge misturaram o auge de sua criatividade, fazendo dali surgir um dos maiores discos já produzidos (o maior disco brasileiro na opinião deste que vos escreve). Lançado em 1975 como um vinil duplo, Gil e Jorge: Ogum, Xangô (os orixás de cada um, respectivamente) não foi um grande disco para o mercado, mas bem-aventurado aquele que guardou uma cópia em vinil até hoje.
Na minha vida foi um disco transformador. Embora tenha sido apresentado ao “Babulina” pela Tábua de Esmeraldas, foi o disco com Gil que me permitiu conhecer a genialidade do músico Jorge Ben. Mais do que isso: nem todos os textos descreveriam os infinitos caminhos de sensações e pensamentos que o ritual protagonizado por Gil e Jorge me possibilitou percorrer. Com este disco aprendi a sentir a música. Desde então, já se passaram mais de 7 anos, e provavelmente mais de 700 audições, e o meu conselho, em tom de devoção, continua o mesmo: por favor, escutem esta obra-prima."
Por Vitor Ranieri
Também gostaria de compartilhar um vídeo superinteressante que mostra alguns trechos da "Phono 73", citada no texto acima. É só clicar na imagem abaixo !
Canal do YouTube: Paulo Souza
O álbum também é encontrado pela capa exibida abaixo. Não sei dizer qual é a capa original de lançamento, então decidi postar ambas.
Baixe o disco clicando no link ao lado: Gil & Jorge: Ogum, Xangô (OBS: Caso não haja visualização da pasta com as faixas, clique em Download e depois em Fazer download mesmo assim)
Referências
O encontro deste dois gênio até a produção do álbum tem um loonga história. Gostaria de compartilha o ótimo texto de Vitor Ranieri, do site Soul Art que retrata muito bem todo o contexto deste antológico álbum:
"Maio de 1973. No Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, está o primeiro time da gravadora Phonogram. Não, não é um dos grandes festivais. Em vez de competição, a ideia é somar. Cada artista sobe ao palco e apresenta uma canção conhecida do público, uma inédita, e de repente uma parceria com outro cantor. Aqui estão Elis, Vinícius, Toquinho, Caetano, Erasmo, Gal, Bethânia, Chico, Simonal, Jair Rodrigues, Raul e tantos outros. Estão aqui também Gilberto Gil e Jorge Ben, os personagens principais da história que a seguir será contada.
Em 1973, Gil havia regressado recentemente de Londres, onde amargurou o exílio ao lado de Caetano. Jorge passava por uma transição, uma nova sonoridade após discos quase perfeitos com o Trio Mocotó. Gil era Expresso 2222, Oriente e Back to Bahia. Jorge era Charles Jr., Cosa Nostra e Por que é proibido pisar na grama. Eis que então acontece no palco, diante dos olhos de todos, em um raro momento onde o sublime metafísico se faz visível, o encontro de duas das almas mais brilhantes da história da música. Cercados por pessoas extasiadas, Gil e Jorge ritualizam Jazz Potatoes e Filhos de Gandhi, enquanto Caetano se debruça sobre os pés de Ben, testa ao solo em admiração.
O que aconteceu no Phono 73 seria o suficiente para uma boa história. Mas a amizade entre os dois gênios da música popular brasileira estava só começando. Dois anos se passaram até o episódio seguinte. Anos que viram acontecer coisas como o lançamento da Tábua de Esmeraldas e o Maracatu Atômico, com Jorge Mautner. Era 1975 e o produtor musical Robert Stigwood, dono da RSO Records, agenciava um dos mais aclamados guitarristas de todos os tempos, o “Slowhand” Eric Clapton. Stigwood decidiu trazer o músico britânico para passar férias no Brasil, e transmitiu a seguinte ideia pelo telefone ao amigo André Midani, presidente da Phonogram à época: “por que você não faz uma reunião do Clapton com os artistas brasileiros?”. Seria uma noite inesquecível para a música.
Para o jantar na casa de Midani foram convidados Caetano, Rita Lee, Erasmo Carlos, e entre outros nomes, Gil e Jorge. “O Eric chegou com a guitarra dele, uma guitarra toda branca que na época fez todo mundo dizer ‘oooh’. Aí os meninos foram buscar cada qual um instrumento qualquer. O Caetano um violão, o Gil um violão, a Rita tomou emprestado um violão. Tinha esses que eu mencionei, tinha certamente o Erasmo, tinha o Cat Stevens também – era um grupo de certa qualidade. Teve um momento onde todo mundo se sentou no chão, e começaram, assim, como quem não quer nada, a tocar”, conta Midani. “De repente, o Cat saiu da roda, a Rita também, não sei se nessa ordem, saiu o Caetano. Eu sei que no fim ficaram Clapton, Gil e Jorge. Aí o Clapton disse: “para mim não dá mais”. E também saiu. Ficaram só Gil e Jorge e foi memorável, memorável”, completa.
Na memória de Jorge Ben a história é um pouco diferente. “O Midani pediu ao Eric Clapton para tocar. Todos queriam ver o considerado monstro da guitarra, pô. Ele fez doce e não tocou, não quis tocar pra gente. Aí, o Midani falou assim: ‘Já que ele não quer tocar, toca vocês aí e mostra pra ele como é que é’. Aí, eu e Gil, começamos a tocar e a coisa foi esquentando”. Do resultado da jam, entretanto, os dois se lembram bem. “Eu fiquei tão impressionado, mas tão impressionado, que eu virei e disse pro (Armando) Pitigliani: ‘amanhã os dois têm que entrar no estúdio’. Não foi ‘amanhã’, claro, porque todo mudo foi dormir 5 horas da manhã, mas dois, três, quatro dias depois”, conta o presidente da gravadora à época.
Alguns dias depois, portanto, Gil e Jorge entraram em estúdio para gravar um disco juntos. Sem grandes ensaios, sem partituras, sem muita edição. Acompanhados de Wagner Dias, no baixo, Djalma Corrêa, na percussão, algumas garrafas de licor de jurubeba (uma erva medicinal encontrada no sertão nordestino com a qual se faz remédios e uma espécie de “vinho”), e sabe-se lá quais mais aperitivos, dois dos violões mais criativos da música brasileira se comunicaram por horas, em um balé da criatividade, um resgate à essência tribal do uso dos instrumentos musicais. Juntos, inventaram de improviso um universo paralelo, sofisticado, construído pela expressão sincera de palavras, sons e sentimentos.
Nove músicas foram gravadas em dois dias de estúdio, quatro delas ultrapassando os 10 minutos de duração. Misturando no repertório algumas canções de Gil (Nega, Essa É pra Tocar no Rádio) com outras de Jorge (Morre o Burro Fica o Homem, Taj Mahal), e outras criadas na hora (Jurubeba, Meu Glorioso São Cristóvão), Gil e Jorge misturaram o auge de sua criatividade, fazendo dali surgir um dos maiores discos já produzidos (o maior disco brasileiro na opinião deste que vos escreve). Lançado em 1975 como um vinil duplo, Gil e Jorge: Ogum, Xangô (os orixás de cada um, respectivamente) não foi um grande disco para o mercado, mas bem-aventurado aquele que guardou uma cópia em vinil até hoje.
Na minha vida foi um disco transformador. Embora tenha sido apresentado ao “Babulina” pela Tábua de Esmeraldas, foi o disco com Gil que me permitiu conhecer a genialidade do músico Jorge Ben. Mais do que isso: nem todos os textos descreveriam os infinitos caminhos de sensações e pensamentos que o ritual protagonizado por Gil e Jorge me possibilitou percorrer. Com este disco aprendi a sentir a música. Desde então, já se passaram mais de 7 anos, e provavelmente mais de 700 audições, e o meu conselho, em tom de devoção, continua o mesmo: por favor, escutem esta obra-prima."
Por Vitor Ranieri
Também gostaria de compartilhar um vídeo superinteressante que mostra alguns trechos da "Phono 73", citada no texto acima. É só clicar na imagem abaixo !
Canal do YouTube: Paulo Souza
Phono 73 |
O álbum também é encontrado pela capa exibida abaixo. Não sei dizer qual é a capa original de lançamento, então decidi postar ambas.
Baixe o disco clicando no link ao lado: Gil & Jorge: Ogum, Xangô (OBS: Caso não haja visualização da pasta com as faixas, clique em Download e depois em Fazer download mesmo assim)
Referências
- http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/consulta/detalhe.php?Id_Disco=DI00963
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_%26_Jorge:_Ogum,_Xang%C3%B4
- http://soulart.org/artes/musica/gil-e-jorge-ogum-xango-1975
- http://www.gilbertogil.com.br/sec_musica.php?
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